‘A agenda ESG veio para ficar e vai crescer’
Para a presidente da Ambipar, a demanda por negócios sustentáveis favorece a companhia de gestão ambiental
A Ambipar estreou na Bolsa em 13 de julho de 2020, tornando-se a primeira empresa listada de gestão ambiental do País. A oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) registrou uma das maiores demandas dos últimos anos, com os pedidos das ações superando dez vezes a oferta. Depois do IPO, em um ano os papéis se valorizaram 50%, e a companhia ganhou o status de ‘queridinha’ da Bolsa.
O bom desempenho não foi por acaso. O grupo foi para a B3 num momento em que a discussão sobre o comprometimento das empresas com questões ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) ganhou tração.
“A Ambipar pode ser nova para alguns investidores, mas já temos uma história longa. O fundador da empresa (Tercio Borlenghi Júnior) sempre vislumbrou algo diferente. Ele não queria ter uma empresa de gestão de resíduos, mas de valorização de resíduos”, diz Cristina Andriotti, presidente da companhia.
O grupo trabalha com a gestão de resíduos de empresas e a transformação do lixo em produtos de valor. São duas verticais de atuação. A primeira faz o gerenciamento e valorização dos resíduos (coleta, processamento, logística), e a segunda cuida de soluções emergenciais (desinfecção de ambientes, prevenção de acidentes, resposta a emergências). Com a pandemia, a demanda do serviço de desinfecção foi potencializada, segundo a executiva. Leia os principais trechos da entrevista.
• As ações da Ambipar se valorizaram cerca de 50% desde o IPO. Qual é o balanço que faz sobre o desempenho no período? Seremos os maiores e os melhores do mundo nos nossos segmentos, eu não tenho dúvidas disso. Estamos com um time muito profissional e comprometido. Quando juntamos essas coisas com a captação de dinheiro, isso nos faz alcançar voos mais altos.
• Como era trabalhar com gestão de resíduos há uma década e como é hoje, com o avanço das discussões sobre sustentabilidade no País?
A Ambipar pode ser nova para alguns investidores, mas temos uma história longa. O fundador da empresa (Tercio Borlenghi Júnior) sempre vislumbrou algo diferente. Ele não queria ter uma empresa de gestão de resíduos, mas de valorização de resíduos. Entendemos que resíduos têm valor. O primeiro trabalho que iniciamos foi com a indústria de papel e celulose. O primeiro pátio de compostagem construído e operado no Estado de São Paulo foi da Ambipar.
• Como enxerga o avanço da pauta ESG no Brasil?
A agenda ESG veio para ficar e vai crescer. Mas é óbvio que existem três níveis de empresas: aquela que é 100% ESG na sua essência; as que estão no processo de entendimento e acabam sendo mais fortes em um lado ou outro da sigla; e há outras que ainda estão engatinhando nesse processo, mas que também já entendem que (a mudança) não tem mais volta.
• Recentemente, a Ambipar entrou em 10 estados americanos. Continuam pensando em expansão internacional?
A ideia é sempre gerar mais valor para as empresas. Com relação aos EUA, continuamos buscando M&AS (fusões e aquisições), mas já começamos a crescer organicamente. Na Europa estamos com a mesma postura.
• Qual é o ganho do reaproveitamento dos resíduos para os clientes?
Precisamos nos preocupar com projetos viáveis ambientalmente e financeiramente. Em todo projeto tenho um período de aprendizado, em que buscamos entender como funciona a operação, se os resíduos normalmente são gerados na mesma qualidade, na mesma quantidade etc. E aí a área de pesquisa e desenvolvimento trabalha para entender o que podemos fazer.
• Como a crise do coronavírus impactou a companhia? Conseguimos acessar mercados a que antes não tínhamos acesso, como o varejo. Shoppings, mercados, prédios comerciais nos procuraram porque trouxemos do Reino Unido uma tecnologia de desinfecção. No início da pandemia houve uma queda na demanda de serviços de emergências nas rodoviárias, que é o nosso forte, porque o movimento caiu, mas compensamos com a desinfecção. No faturamento não houve nenhuma queda. Hoje, os serviços de emergência já voltaram ao patamar anterior.