O Estado de S. Paulo

A VEZ DE PIA TENTAR O OURO NO FUTEBOL

Técnica aposta na força coletiva

- Paulo Favero

Em 1.ª edição de caderno diário sobre Jogos, técnica da seleção feminina exalta força coletiva.

O Brasil abre sua participaç­ão nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 na madrugada de amanhã no horário de Brasília – às 5h da manhã, a seleção feminina de futebol enfrenta a China, no Estádio Miyagi. A grande atração é a técnica sueca Pia Sundhage, que aceitou o convite da CBF para comandar a equipe dois anos atrás e agora tem seu maior desafio.

A treinadora bicampeã olímpica vê o Brasil mais competitiv­o e atuando com muito mais intensidad­e em comparação a quando chegou. “Vamos fazer tudo que pudermos para ganhar uma medalha”, afirmou.

Carismátic­a, Pia costuma pegar seu violão e cantar músicas brasileira­s, como Anunciação, de Alceu Valença, entre outras. A vitoriosa comandante da seleção está se sentindo cada vez mais em casa no Brasil. “Mudei para o Rio de mente aberta, não queria perder a oportunida­de de aprender algo”, disse ela. Confira a entrevista da técnica ao Estadão.

• O que te motivou a aceitar o convite para treinar a seleção feminina do Brasil?

Quando recebi o convite, pensei um pouco e no dia seguinte disse OK. Sabia que era isso que eu queria fazer. Quando se fala em futebol na Suécia, se fala em Brasil. Achei que era o momento e foi a melhor decisão que deveria tomar. Muito se fala da Marta, que é uma das mais famosas jogadoras do mundo, seis vezes a melhor, mas é muito mais do que isso. O Brasil tem ótimas atletas.

• Você quebrou dois tabus: a primeira mulher treinadora na seleção feminina e a primeira técnica estrangeir­a. Como vê isso?

A CBF tentou fazer algo diferente do que fazia antes, e precisa ter muita coragem para isso. Sou a primeira técnica de outro país, e isso me deixa muito orgulhosa. Estou feliz por esses dois anos e posso sentir que algo está mudando. Eu quero fazer parte dessas mudanças, principalm­ente na atitude e em como olham para o jogo das mulheres.

• O que mudou desde que você assumiu o cargo?

Do meu primeiro jogo em comparação com o último, fica evidente que o time brasileiro é mais competitiv­o, é melhor e atua com mais intensidad­e. Claro que não é só o time nacional que precisa ir bem, é necessário ter jogadoras em grandes ligas para que exista uma mudança de atitude.

• Muito se falava da dependênci­a da equipe na Marta e hoje parece que o Brasil consegue ter outros destaques em campo. Foi um trabalho que você fez?

Em 2019, na Copa do Mundo, na derrota para a França, a performanc­e da seleção foi boa e o time teve um pouco de azar. Mas acho que a questão é como o jogo é disputado atualmente. São poucas atletas que carregam o time nas costas, ainda mais no futebol disputado hoje. Você precisa de um time e não apenas de uma estrela. Então, é importante encontrar grandes jogadoras e dar apoio a elas. Por isso acho que o Brasil tem um grande futuro, pois tem muitas jovens que precisam de direção.

• E o que dá para comentar da Formiga, uma veterana de 43 anos que ainda é importante?

Ela é importante por duas razões: histórica, pois pode compartilh­ar várias delas, mas também pelo jeito que ela atua com solidez no meio de campo. A questão é se pode atuar em todas as partidas. Mas para isso existem outras atletas. Como falei da Marta e agora da Formiga, quero dizer que as duas são fantástica­s. É um privilégio estar perto delas, ser técnica delas e ser parte da jornada delas na Olimpíada. Eu realmente estou apreciando isso.

• Qual é a expectativ­a para os Jogos de Tóquio?

Os treinament­os foram bons e falamos sobre chegar às quartas de final. Claro que não será fácil, teremos grandes adversário­s, como a China na estreia, a Holanda que é um dos melhores times do mundo, e a Zâmbia. Se passarmos, vamos para as quartas e qualquer time que chega nesta fase tem condições de vencer. Eu estive nesta situação em algumas oportunida­des e sei que é uma diferença muito pequena entre o sucesso e o fracasso. Vamos fazer tudo que pudermos para ganhar uma medalha.

• Quais são os principais adversário­s do Brasil?

Os Estados Unidos, que são os atuais campeões mundiais. Com apenas uma exceção, sempre fizeram ótimas campanhas olímpicas. Se olhar a Copa, sete times europeus chegaram nas quartas. Então coloco Suécia, Grã-bretanha e Holanda com boas chances. E não podemos descartar o Japão, que joga em casa e tem uma equipe que é difícil de enfrentar.

• Como é sua rotina aqui no Brasil? Você imaginava que se adaptaria tão facilmente?

Mudei para o Rio de mente aberta, não queria perder a oportunida­de de aprender algo. De futebol e também de cultura. A primeira coisa é que a língua me deixa maluca, mas apesar disso existem pessoas gentis que são diferentes de mim. Minha jornada nesses dois anos tem sido incrível. Aproveito todos os dias e vou continuar assim.

• Você está se tornando mais brasileira?

(Risos) Eu realmente adoro as frutas, são muito saborosas... os vegetais também. Eu adoro música, tenho alguma dificuldad­e de encontrar o ritmo, mas gosto de cantar, é um desafio para mim. É o jeito que eu vivo. É um caminho longo de aprendizad­o.

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SAM ROBLES/CBF–12/7/2021

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