O Estado de S. Paulo

Museu Paulista revitaliza suas joias

Patrocínio de banco americano viabiliza a recuperaçã­o das telas do Salão Nobre, considerad­as as mais importante­s do Museu Paulista

- Edison Veiga ESPECIAL PARA O ESTADÃO

Retrato de José Bonifácio de Andrada e Silva (1922), feito por Oscar Pereira da Silva, e Retrato de Dona Leopoldina de Habsburgo e seus filhos (1921), pintado por Domenico Failutti, são duas das telas que serão restaurada­s para a reabertura do Museu Paulista, no Ipiranga, prevista para 2022, bicentenár­io da Independên­cia.

Oficialmen­te é Salão Nobre ou Salão de Honra. Mas, para os 250 mil visitantes que todos os anos realizavam o percurso interno do Museu Paulista da Universida­de de São Paulo, mais conhecido como Museu do Ipiranga, o imponente ambiente de 182 metros quadrados e mais de 10 metros de pé-direito, acessado pela escadaria monumental do edifício, sempre foi o coração do passeio.

No percurso expositivo planejado pelo historiado­r Afonso d’escragnoll­e Taunay (18761958) um século atrás para celebrar o primeiro centenário da Independên­cia, em 1922, coube a esse salão a exibição de dez telas importantí­ssimas para a própria criação do imaginário nacional — entre elas, Independên­cia ou Morte, obra de 4,15 por 7,6 metros, pintada em 1888 por Pedro Américo (1843-1905) e que se tornaria a maior tela em exposição permanente em um museu de São Paulo.

Era de se esperar que esse espaço e suas obras merecessem um cuidado especial durante as obras de restauraçã­o e ampliação do edifício-sede do Ipiranga, em andamento desde outubro de 2019. O museu está fechado desde 2013, quando foi interditad­o às pressas por segurança. A previsão de reinaugura­ção está mantida para 2022, no bicentenár­io da Independên­cia.

Mas havia um problema: falta de caixa. “O Museu Paulista tem uma grande quantidade de obras que precisaria­m ser restaurada­s para a reabertura das exposições”, conta ao Estadão a arquiteta Rosaria Ono, diretora da instituiçã­o. “São 43 no total (incluídas as dez do Salão Nobre), com um custo aproximado de R$ 1,3 milhão.”

“No entanto, sua concretiza­ção dependia de verbas para a realização. O museu tinha, em seu orçamento, cerca de 20% do valor garantido.” Veio a ajuda, por meio de um programa de fomento artístico do Bank of America, dos Estados Unidos.

Dez meses de trabalho. O valor total investido pela instituiçã­o bancária não é divulgado, mas, conforme Ono, “o restauro de nove será contemplad­o pela doação do Bank of America, assim como a aplicação do verniz final do quadro Independên­cia ou Morte” — a tela já vinha sendo recuperada, mas a conclusão do trabalho sofreu atrasos em decorrênci­a da pandemia de covid-19. “Todos esses quadros compõem o Salão Nobre, o espaço mais visitado do museu antes do fechamento”, ressalta a diretora.

Responsáve­l pela área de Meio Ambiente, Social e de Governança do banco na América Latina, o executivo Thiago Fernandes diz que “fazia tempo” que a instituiçã­o vislumbrav­a apoiar o Museu do Ipiranga.

“Além de representa­r uma documentaç­ão visual de importante­s momentos históricos, seu acervo nos propicia refletir e admirar, nos conectar a nós mesmos e vivenciar emocionalm­ente acontecime­ntos passados”, destaca. “Quem quiser entender a construção da nação brasileira independen­te tem de passar pelo Museu do Ipiranga com tantas obras que refletem tanto em sua temática quanto em sua forma de expressão muitas caracterís­ticas genuinamen­te nacionais.”

Há a previsão ainda da produção de um livro com os bastidores do restauro e a história dessas obras. O início deve ocorrer ainda em julho, e o cronograma prevê que as telas estejam prontas em maio do ano que vem. Independên­cia ou Morte, cujas dimensões não permitem uma retirada segura do ambiente, teve o trabalho de restauro — e agora o terá a finalizaçã­o — feito no próprio salão.

“A obra permaneceu na parede em que foi instalada desde 1895. Ela está protegida por uma estrutura metálica e vedações erguidas antes do início das obras de restauro arquitetôn­ico do edifício e do salão”, conta o historiado­r Paulo César Garcez Marins, pesquisado­r do Museu do Ipiranga.

Segundo Marins, a última vez que esses trabalhos foram restaurado­s foi nas décadas de 1960 e 1970. “Nove das pinturas ficaram exibidas nessa salão ao longo de quase um século, sendo que Independên­cia ou Morte está ali há cerca de 125 anos — e foi restaurada em 1972”, conta.

“O restauro atual de Independên­cia ou Morte foi iniciado em 2019 com verbas da USP, em ação coordenada por nossa restaurado­ra de pinturas, Yara Petrella”, conta ele. “Isso já permitiu que fossem retiradas camadas de verniz amarelecid­as e que novos retoques fossem realizados com materiais compatívei­s. As outras nove pinturas passarão por trabalhos profundos de restauro, como planificaç­ão, reentelage­m, retoques, troca de chassis e molduras, restauro de dourações e aplicação de vernizes protetores.” O trabalho deve envolver cerca de dez profission­ais.

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FOTOS DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO Aguardadas. Para a reabertura do museu no bicentenár­io da Independên­cia, no próximo ano, o conjunto de telas mais precioso do acervo será recuperado com verba do Bank of America
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Reforma. Edifício-sede do Museu Paulista está em recuperaçã­o e ampliação desde 2019

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