O Estado de S. Paulo

Turismo e agricultur­a para tirar os haitianos da pobreza crônica

- Noah Smith / BLOOMBERG ✽ É COLUNISTA

Para sair da pobreza crônica, o Haiti deve copiar seus vizinhos mais bemsucedid­os, como a Jamaica e a República Dominicana. Agora mesmo, o Haiti é o país mais pobre do Hemisfério Ocidental. Pior ainda, segundo algumas medições, os padrões de vida dos haitianos não aumentaram desde 1950, quando ele estava no mesmo nível de Jamaica e República Dominicana. Este é um dos fracassos econômicos mais sombrios do mundo moderno, e reverter a situação deve ser uma missão urgente para os haitianos, assim como para os EUA e outros vizinhos da região. O que fará o Haiti menos pobre? As respostas prováveis são turismo e melhor agricultur­a.

A maioria dos países insulares do Caribe prosperam no turismo. Para a Jamaica, a contribuiç­ão total da indústria é estimada em 31% do PIB. Mesmo para a República Dominicana, com um mix industrial bem diversific­ado de manufatura e serviços, o turismo sustenta 16,3% da economia. Por enquanto, a única atração turística no Haiti é o porto de Labadee, que é alugado por uma empresa de cruzeiros e isolado do restante do país. A maior razão pela qual os turistas não visitam as belas praias do Haiti é o medo. O país deve se concentrar na criação de pequenos oásis de segurança onde os turistas possam ter certeza de que não serão sequestrad­os ou roubados. É assim que República Dominicana e Jamaica têm indústrias de turismo bem-sucedidas, apesar de suas altas taxas de criminalid­ade.

O Haiti também pode construir um aeroporto perto dos centros turísticos. Isso e os hotéis exigirão financiame­nto estrangeir­o. Portanto, o Haiti deve garantir direitos de propriedad­e estáveis a investidor­es estrangeir­os. Esses direitos de propriedad­e também terão uma boa influência na governança do país, pois acabarão por permitir uma cultura de empreended­orismo.

O Haiti também precisa melhorar sua produtivid­ade agrícola. A agricultur­a ainda representa cerca de metade da economia do país. O aumento da produtivid­ade pode evitar a necessidad­e de aumentar a área cultivada (o que causa perda de solo), e modernizar as pequenas propriedad­es pode ajudar a torná-las mais robustas contra os desastres naturais frequentes da ilha.

Finalmente, o Haiti pode considerar se tornar um paraíso fiscal. Muitas pequenas ilhas caribenhas, como Bermudas e Cayman, conseguira­m fazer com que empresas estrangeir­as abrissem escritório­s ou comprassem imóveis locais, oferecendo taxas de imposto corporativ­as extremamen­te baixas. É um truque barato e ajuda as empresas do mundo rico a contornar suas contas de impostos. Mas traria algum dinheiro muito necessário e poderia ajudar a desenvolve­r o hábito nacional de proteger os direitos de propriedad­e. Essa estratégia também exigiria a criação de enclaves de segurança para estrangeir­os.

O Haiti não terá uma história de sucesso da noite para o dia. Mas estas são iniciativa­s viáveis, pois não exigem consertar todo o país de uma vez – apenas criar bolsões de segurança para gerar alguma prosperida­de que pode começar a ajudar a tirar os haitianos da pobreza, iniciando um ciclo virtuoso de estabilida­de política e cresciment­o. A diáspora haitiana e as agências de ajuda internacio­nal devem concentrar seus gastos na criação desses bolsões de cresciment­o. O Haiti não será consertado amanhã ou depois de amanhã. Mas o cresciment­o tem de começar em algum lugar.

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