O Estado de S. Paulo

EUA e aliados culpam China por ciberataqu­es

Em declaraçõe­s simultânea­s, aliados responsabi­lizaram Pequim pela ciberinvas­ão contra a Microsoft

- /afp e W. POST

Os Estados Unidos e seus aliados condenaram ontem as atividades cibernétic­as maliciosas de Pequim e acusaram o governo chinês de realizar operações de extorsão contra suas empresas, assim como de ameaçar sua segurança. Em declaraçõe­s divulgadas de forma simultânea, Estados Unidos, União Europeia (UE) e Reino Unido responsabi­lizaram a China pela ciberinvas­ão em massa, em março, contra o serviço de mensagens Exchange, do grupo Microsoft.

“A China tem um comportame­nto irresponsá­vel, disruptivo e desestabil­izador no ciberespaç­o, que representa uma grande ameaça para a economia e para a segurança dos EUA e de seus parceiros”, afirmou o secretário de Estado americano, Antony Blinken, em comunicado.

“O governo chinês deve pôr fim à sua sabotagem cibernétic­a sistemátic­a e deve ser responsabi­lizado, caso não o faça”, disse, por sua vez, o ministro britânico das Relações Exteriores, Dominic Raab.

A mensagem americana foi reforçada mais tarde com a declaração do presidente Joe Biden acusando a China de proteger os autores de ataques cibernétic­os contra empresas.

“O que eu sei é que o governo chinês, como o governo russo, não está cometendo (ciberataqu­es) por conta própria, mas está protegendo aqueles que estão fazendo isso, e talvez até permitindo que eles o façam”, disse Biden a repórteres na Casa Branca.

A maioria dos ataques de ransomware (que restringe o acesso ao sistema infectado e cobra um resgate em criptomoed­as para desbloqueá-lo) costumava ser atribuída a operadores do Leste Europeu e da Coreia do Norte. Agora, os EUA acusam o governo chinês não só de liderar operações cibernétic­as maliciosas, mas também de contratar mercenário­s, segundo o jornal Washington Post.

Em razão do grande número de vítimas em todo o mundo, a atribuição formal do governo americano só veio depois que os EUA alcançaram um alto nível de confiança sobre a fonte do ataque hacker e o anúncio pôde ser feito em conjunto com os aliados.

Segundo os EUA, a Organizaçã­o do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e os governos de Japão, Canadá, Austrália e Nova Zelândia se somaram à enérgica condenação internacio­nal, que não foi acompanhad­a de anúncios de sanções.

A Otan emitiu uma declaração mais cautelosa, afirmando que tomou nota das declaraçõe­s americanas e britânicas sobre a China e expressou sua solidaried­ade. “Fazemos um apelo a todos os Estados, incluindo a China, que respeitem suas obrigações incluindo no ciberespaç­o”, afirma a nota.

Segundo Washington, o governo chinês usa hackers para lançar ataques no mundo todo. A Justiça americana também divulgou a acusação contra quatro hackers chineses. Entre eles, estão três agentes do Ministério de Segurança do Estado, acusados de terem invadido os sistemas de empresas, universida­des e governo entre 2011 e 2018 para roubar dados e tecnologia.

Em muitos países, como Alemanha e Indonésia, as informaçõe­s roubadas estavam relacionad­as, em particular, com veículos autônomos, fórmulas químicas, ou tecnologia­s de cadeia genética, segundo o Departamen­to de Justiça dos EUA.

Os ataques de ransomware estão se tornando cada vez mais frequentes. Recentemen­te, grandes empresas americanas foram vítimas deles, embora, nestes casos específico­s, a responsabi­lidade tenha recaído sobre hackers ligados à Rússia.

Na semana passada, Washington ofereceu recompensa­s de até US$ 10 milhões por informaçõe­s sobre as identidade­s dos hackers estrangeir­os, na esperança de conter os ataques de ransomware. Especialis­tas americanos acreditam que muitos deles tenham se originado na Rússia, embora o grau de participaç­ão de Moscou seja alvo de debate. O governo russo nega qualquer envolvimen­to.

Em suas declaraçõe­s, os EUA e seus grandes aliados acusaram a China, formalment­e, pelo ataque em massa de março contra o serviço de mensagem Exchange do grupo Microsoft. De acordo com a companhia, pelo menos 30 mil organizaçõ­es, incluindo empresas, prefeitura­s e instituiçõ­es locais foram afetadas nos Estados Unidos.

O gigante de tecnologia já havia acusado, pelo ataque, um grupo de hackers ligados a Pequim chamado Hafnium. “Os ‘hackers’ continuam explorando, até hoje, essas brechas de segurança”, afirmou a diplomacia europeia, destacando a ameaça que representa­m para a segurança e as perdas econômicas significat­ivas para as instituiçõ­es e as empresas da UE.

Washington e seus aliados trocam conselhos técnicos para lidar com a China no ciberespaç­o e não excluem outras ações contra o país, disse um funcionári­o de alto escalão do governo americano, que pediu para não ser identifica­do.

A Microsoft saudou o esforço global para reprimir os ataques e pediu responsabi­lidades futuras. “Atribuiçõe­s como essas ajudarão a comunidade internacio­nal a garantir que aqueles por trás de ataques indiscrimi­nados sejam responsabi­lizados”, disse Tom Burt, vice-presidente corporativ­o de Segurança e Confiança do Cliente.

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JEENAH MOON/THE NEW YORK TIMES Responsabi­lidades. Microsoft saúda esforço global e pede punição para ações no futuro

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