Remédio defendido por Bolsonaro terá testes
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou ontem a realização de um estudo clínico para avaliar a segurança e a eficácia do medicamento proxalutamida no tratamento da covid-19. O estudo envolverá 12 voluntários de Roraima e outros 38 de São Paulo.
A Anvisa informou que o estudo é de fase três, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo. A substância será ministrada em participantes ambulatoriais do sexo masculino com covid-19 leve a moderada. Como ainda não há comprovação sobre a eficácia do medicamento contra a covid, ele não deve ser usado para este fim.
O ensaio clínico é patrocinado pela Suzhou Kintor Pharmaceuticals, sediada na China. Além do Brasil, os testes serão realizados na Alemanha, na Argentina, na África do Sul, na Ucrânia, no México e nos EUA.
Os testes com proxalutamida fazem parte de uma estratégia chamada reposicionamento de fármacos. Isso acontece quando um medicamento que já existe é testado para uma função não descrita na bula. Esse método é vantajoso porque reduz o tempo e o custo de desenvolvimento de um remédio.
A proxalutamida vem sendo defendida pelo presidente Jair Bolsonaro desde março. Adriano Andricopulo, químico medicinal e pesquisador do Instituto de Física da USP, explica que até o momento a proxalutamida não foi aprovada para tratar nenhuma doença em humanos. O remédio tem potencial antineoplásico — inibe a disseminação de tumores — e está sendo investigado no tratamento do câncer de próstata. Não está disponível em farmácias.
“Não há razão para entusiasmo em relação à proxalutamida até o momento. É mais um candidato em avaliação clínica”, diz Andricopulo. Ele lembra que ainda não há nenhum remédio contra a covid que seja eficaz e acessível. “A exceção é o remdesivir, que apresenta algumas limitações importantes, como baixa eficácia, limitada disponibilidade, elevado preço e via administração inadequada (intravenosa) para amplo tratamento”, pontua.
No Brasil, além do remdesivir, a Anvisa aprovou para o tratamento da covid os anticorpos monoclonais banlanivimabe e etesevimabe.