O Estado de S. Paulo

Promotoria denuncia 12 PMS por mortes em Paraisópol­is

Policiais militares são acusados de encurralar e agredir vítimas durante baile funk, em que morreram nove jovens

- Pepita Ortega e Fausto Macedo

O Ministério Público de São Paulo denunciou ontem doze policiais militares por homicídio triplament­e qualificad­o de nove pessoas que morreram pisoteadas após ação da PM em um baile funk na comunidade de Paraisópol­is, zona sul de São Paulo, no dia 1º de dezembro de 2019. De acordo com a Promotoria, denunciado­s ‘agiram por motivo torpe e meio que resultou em perigo comum, atuando de surpresa, recurso este que dificultou a defesa’ das vítimas, matando os jovens por asfixia por sufocação indireta.

“Deliberada­mente deixaram de observar regras mínimas para a contenção de distúrbios civis e dispersão de multidões e, com intuito de provocar pânico e sofrimento nas pessoas que participav­am de evento cultural no local dos fatos, agiram com violência, confinando as vítimas no quarteirão da Rua Ernest Renan, entre as ruas Herbert Spencer e Rodolf Lotze, o que causou suas mortes”, registra a denúncia.

Os 12 PMS denunciado­s pelos homicídios também são acusados das lesões corporais de duas jovens, Giovanna Ferraz da Silva e Miryan de Araújo Macário. A primeira foi atingida no rosto por uma das garrafas, com vidros quebrados, que eram atiradas pelos policiais em direção da população. Já Miryan foi alvejada por uma bala de borracha que permaneceu alojada em sua perna.

A peça é assinada pelos promotores Neudival Mascarenha­s

Filho, Luciana André Jordão Dias e Alexandre Rocha Almeida de Moraes, da Promotoria de Justiça do I Tribunal do Júri da Capital. O trio denunciou ainda um 13º policial por colocar a vida alheia em perigo mediante explosão ao jogar três ‘morteiros’ (bomba caseira) em direção a um grupo de pessoas. Com relação a ele, a Promotoria ofereceu a suspensão condiciona­l do processo por dois anos – possibilid­ade de o acusado cumprir certas condições em troca da extinção da ação.

A denúncia define a ação dos PMS como uma operação com ‘verdadeira violação dos direitos dos cidadãos que estavam no baile e moradores de Paraisópol­is’ frisando que os agentes ‘de forma livre e consciente, se omitiram em cumprir com as normas previstas no Manual de Controle de Distúrbios e nos Procedimen­tos de Operação Padrão da Polícia Militar, em especial os da Força Tática e de uso de granadas, embora tivessem o dever legal de garantir a segurança daquela população’.

A peça de 11 páginas apresentad­a ao juízo da do 1º Tribunal do Júri de São Paulo narra que os 12 PMS denunciado­s jogaram granadas contra as pessoas que estavam no baile, além de as terem agredido com cassetetes, tonfas e um bastão de ferro. Os denunciado­s também dispararam balas de borracha contra a população e jogaram garrafas, objetos e gás de pimenta para o interior da viela do Louro – onde nove pessoas foram encontrada­s desacordad­as.

De acordo com os promotores, os denunciado­s tinham conhecimen­to de que não havia rotas fuga suficiente­s para o escoamento da multidão. “Todas as pessoas que estavam no baile da DZ7, na madrugada de 1º de dezembro de 2019, foram expostas ao perigo de vida, já que ficaram confinadas, expostas aos disparos de armas não letais e à violência policial praticada e aos riscos do escoamento da multidão por via inadequada”, argumenta o MP-SP.

A promotoria pede, além da condenação dos policiais, a fixação de valor mínimo para reparação dos danos materiais e morais causados pelos crimes. O MP-SP enviou uma cópia da peça de acusação ao Tribunal de Justiça Militar, consideran­do que há inquérito policial militar em curso, e pediu ainda, ao promotor que atual em tal procedimen­to providênci­as para o afastament­o dos PMS denunciado­s das atividades de rua até o fim do processo.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO–4/12/2019 Revolta. No início de dezembro de 2019, comunidade na Zona Sul protestou contra a ação policial, que teve saldo trágico

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