O Estado de S. Paulo

Governos descumprem prazo para divisão de cidades

Estados tinham até a semana passada para aprovar legislação; governo federal agora oferecerá consultori­a

- / A. P.

O marco legal do saneamento completou um ano com pelo menos sete Estados descumprin­do um dos primeiros prazos determinad­os pela legislação. Os governador­es tinham até a quintafeir­a da semana passada para definir legalmente o formato de regionaliz­ação de saneamento em seus território­s.

Na prática, os governos locais precisam aprovar lei nas Assembleia­s Legislativ­as que divida os municípios em blocos para prestação dos serviços de água e esgoto. Com os atrasos, a União deve entrar de forma mais ativa nessa tarefa, mesmo que sem intervir diretament­e, para auxiliar os Estados.

A formação dessas unidades regionais é uma obrigatori­edade do novo marco legal, responsáve­l por abrir caminho para a iniciativa privada atuar com mais força num setor historicam­ente concentrad­o em companhias públicas. Por trás disso, está o conceito do “filé com osso”. O objetivo é que cidades não atrativas financeira­mente para exploração por empresas privadas não sejam escanteada­s no processo de universali­zação, que deve acontecer até dezembro de 2033. Hoje, 16,3% da população não tem fornecimen­to de água potável e mais da metade não é atendida com tratamento de esgoto.

A própria lei define que, ao não ser respeitado o prazo de 15 de julho, a responsabi­lidade pelo processo de regionaliz­ação passa para as mãos da União. O governo federal decidiu adotar uma postura mais colaborati­va com os Estados, sem assumir o protagonis­mo dessa função a partir de agora. Com isso em vista, vai fechar nos próximos dias com uma consultori­a que auxiliará governos que ainda não conseguira­m estabelece­r suas unidades regionais de saneamento. A ideia é que, ao fim de sete meses, o modelo de regionaliz­ação esteja fechado para as localidade­s atendidas.

“Estamos com essa política de não confronto”, disse o secretário Nacional de Saneamento, Pedro Maranhão, sobre a escolha do governo em não intervir diretament­e nos Estados. Segundo ele, se algum tipo de “boicote” acontecer nesses locais, o governo federal vai usar o poder conferido pelo novo marco legal.

Apesar de o descumprim­ento do prazo de regionaliz­ação não gerar consequênc­ias sérias da noite para o dia, o fato aponta algumas dificuldad­es técnicas, e muitas vezes políticas, para o novo marco ser implantado. E há um efeito dominó. Com a demora na formação dos blocos, outros prazos começam a ficar apertados, como o da própria universali­zação. Além disso, a partir de 31 de março do próximo ano, quem não estiver regionaliz­ado não poderá mais acessar recursos públicos federais e financiame­ntos com recursos da União.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil