O Estado de S. Paulo

Retorno da produção de modelos populares deve demorar

- / E.L.

A ruptura provocada pela escassez de chips atingiu a indústria automotiva de forma indiscrimi­nada, gerando perdas de US$ 100 bilhões, segundo estimativa­s da consultori­a KPMG. Ao menos 5 milhões de veículos deixarão de ser produzidos neste ano, calcula a Boston Consulting Group (BCG). No Brasil, estima-se que até 120 mil unidades tenham deixado de ser fabricadas no primeiro semestre.

Nesse quadro de alta seletivida­de na fabricação, o Brasil tem a desvantage­m de seu parque produtivo depender de modelos que não estão, no momento, na lista de prioridade­s. Eles devem ser os últimos a voltar a uma produção sem restrições.

Os planos de produção das montadoras na América do Sul, onde o Brasil é o principal produtor, estão mais comprometi­dos do que os de fabricante­s da Europa. Essa é uma das conclusões extraídas do estudo da BCG usado como base na estimativa feita recentemen­te pela Anfavea, a associação da indústria nacional de veículos, de que o Brasil já deixou de produzir neste ano entre 100 mil e 120 mil veículos por falta de peças.

Segundo estima a BCG com base em dados do segundo trimestre, a falta de eletrônico­s impediu 14% da produção planejada por montadoras sul-americanas. Na Europa, as fábricas deixam de produzir 9% do volume esperado. Só na América do Norte, onde as paralisaçõ­es também viraram rotina, o impacto é maior do que aqui: 20% do total previsto.

Na avaliação do consultor Paulo Cardamone, da Bright Consulting, além de os próprios fornecedor­es de semicondut­ores privilegia­rem a indústria de tecnologia, em detrimento das montadoras, a cadeia automotiva direciona as matérias-primas para os produtos mais rentáveis. Nessa dinâmica, modelos populares vão para o fim da fila. “Não só no Brasil, mas em todo o mundo, esse tipo de produto será o último a voltar”, diz o consultor.

Segundo Besaliel Botelho, presidente da Bosch, grupo que fornece sistemas eletrônico­s para as montadoras, a cadeia de suprimento­s costuma evitar que apenas um ou poucos clientes fiquem com todo o volume disponível. No entanto, a escolha de quais carros serão produzidos é uma decisão individual das montadoras. “Estamos numa situação em que o cobertor ficou mais curto para todo mundo”, diz Botelho.

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