Temor e esperança nos Jogos
Partindo do Catar, o voo que trouxe a reportagem do Estadão para Tóquio estava com quase todos os assentos ocupados por representantes olímpicos vestindo uniformes de países como Geórgia, Egito, Grécia, Irlanda, Tunísia, Argentina, Sérvia e Irã, entre outros. Eram atletas do levantamento de peso ou do tênis de mesa, além de treinadores e médicos de várias partes do mundo se encontrando dentro de um avião com destino ao Japão. A explicação para essa incomum “união de povos” é simples: por causa da pandemia, o Japão impôs severas restrições à entrada de estrangeiros. Assim, o número de aeronaves com destino ao país-sede dos Jogos reduziu drasticamente. Voos estão sendo agrupados e, por isso, tantos membros de tantas delegações diferentes estavam no mesmo avião que nós do Estadão e outros jornalistas.
O Japão vive um momento excepcional por causa dos Jogos. Participar de alguma maneira da Olimpíada significa fazer parte dessa exceção. O fantasma da covid-19 ronda Tóquio. Ser contaminado é o maior pesadelo que pode acontecer com qualquer credenciado, seja atleta, técnico ou jornalista. Os números ainda são pequenos (58 casos positivos até segunda) se comparados à enorme quantidade de testes (mais de 30 mil), mas se o resultado der positivo, já era. São 14 dias de quarentena obrigatória e praticamente o fim da sua participação.
Como a preocupação no Japão é evitar que estrangeiros aumentem ainda mais a disseminação do vírus no país, os protocolos de entrada são bastante rigorosos para qualquer um que vá participar da Olimpíada. É obrigatório apresentar dois testes negativos feitos com 96 horas e 72 horas antes do embarque para o Japão. Na chegada, outro teste é realizado, por saliva, e a pessoa só deixa o aeroporto após o resultado negativo. A triagem continua nos três dias subsequentes. A partir daí, a verificação é menos frequente, mas o monitoramento continua.
Claro que o grande temor do Comitê Organizador é com a reunião de pessoas de diversas partes do mundo em um só lugar. A segurança na saúde começa com boa higiene, uso obrigatório de máscaras e distanciamento social. Para além disso, o deslocamento
MEDO DO COMITÊ ORGANIZADOR É COM A REUNIÃO DE PESSOAS DE DIVERSAS PARTES EM UM SÓ LUGAR
para outras partes da capital japonesa que não sejam estruturas dos Jogos Olímpicos está vetado. Quem sair da linha pode, inclusive, ter sua credencial confiscada. A cada caso positivo que aparece, um novo recado é dado à comunidade olímpica: se cuidem, pois é a única forma de realizar esta edição dos Jogos com mais segurança.
Tóquio não está tão eufórica com os Jogos como costuma ocorrer com cidades escolhidas para receber o maior evento esportivo do mundo. Inclusive, pesquisas de opinião apontam forte rejeição de grande parte dos moradores à Olimpíada. O medo é de que os estrangeiros tragam novas variantes do novo coronavírus ao Japão e provoquem uma explosão de casos de covid-19 no país.
Mas, a esperança é de que os Jogos Olímpicos, mesmo com tantas restrições e medos, possam ser o símbolo maior de que a humanidade caminha para vencer o vírus.
Voltando ao avião rumo a Tóquio: ao nosso lado estavam sentados um atleta da Geórgia e outro da Irlanda, ambos de máscara. Em dado momento, o irlandês jogou álcool em gel na mão do “rival”, explicou como acessar à Internet durante o voo e ainda o auxiliou na hora de decifrar o estranho cardápio oferecido pela aeromoça. Esse é o espírito olímpico. Esse é o espírito da humanidade em meio à pandemia, pois somente com um pacto coletivo é que conseguiremos derrotar a covid-19.