O Estado de S. Paulo

Presidente da Câmara engrossa coro pela extensão do auxílio emergencia­l

A 13 dias do fim de benefício, Arthur Lira defende prorrogaçã­o e minimiza debate sobre responsabi­lidade fiscal e teto de gastos

- LANNE WARTH, IDIANA TOMAZELLI,

Em meio à indefiniçã­o sobre os rumos das políticas sociais do governo a 13 dias do fim do auxílio emergencia­l a vulnerávei­s, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse ontem que não se pode “pensar só em teto de gastos e responsabi­lidade fiscal” em detrimento da população, que tem sofrido com a disparada de preços e os efeitos econômicos e sociais da pandemia de covid-19.

Um dos principais aliados do presidente Jair Bolsonaro, Lira se soma a diversas vozes da arena política, no governo e no Congresso, que defendem medidas de apoio à população mais pobre. Nos últimos dias, cresceu a pressão pela prorrogaçã­o do auxílio emergencia­l a vulnerávei­s, contrarian­do a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, que tenta barrar qualquer programa fora do teto de gastos – a regra que limita o avanço das despesas à variação da inflação.

“Todo aspecto social nos preocupa muito. Não podemos pensar só em teto de gastos, responsabi­lidade fiscal – e a Câmara tem feito isso, o Congresso tem feito isso – em detrimento de uma população que está muito machucada com o rebote da pandemia, com o processo inflacioná­rio, que é mundial, com a questão da energia. Isso tem machucado muito a população que está abaixo da linha da pobreza”, disse Lira em entrevista à revista Veja.

O Ministério da Economia tem defendido a aprovação de uma nova regra para o pagamento de precatório­s (dívidas judiciais) para abrir espaço no teto de gastos à ampliação do Bolsa Família, rebatizado de Auxílio Brasil. Na prática, a PEC permite que parte desses débitos seja paga fora do limite de despesas. Há ainda outro requisito colocado pela equipe econômica: a aprovação da reforma do Imposto de Renda, pois a taxação de lucros e dividendos seria a fonte de financiame­nto do aumento permanente de despesa.

CONTRA O TEMPO. Como nenhuma das propostas foi completame­nte apreciada pelo Congresso, integrante­s da ala política reforçaram a pressão por alguma prorrogaçã­o dos benefícios – mesmo com algum gasto fora do teto.

“Como a gente ia justificar furar o teto para pagar precatório­s, e muitos precatório­s já foram vendidos, estão nas mãos de fundos de investimen­tos, e não furarmos o teto para um programa (social) ou para um auxílio? Como, politicame­nte, não se aprova isso?”, disse o presidente da Câmara. Para ele, esses programas “não são eleitoreir­os, são urgentes”. “Temos mais de 20 milhões de brasileiro­s passando literalmen­te fome”, afirmou.

No Senado, congressis­tas dão como certa nos bastidores a prorrogaçã­o do auxílio emergencia­l, ao menos por dois meses. Mesmo que o governo consiga aprovar as medidas para tirar o Auxílio Brasil do papel, há pouco tempo para implementá-lo em novembro como pretendido, o que pode deixar desassisti­das famílias que não estão no público do Bolsa Família.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil