O Estado de S. Paulo

A retomada dos investimen­tos

Cresciment­o dos investimen­tos estrangeir­os diretos supera as expectativ­as otimistas da Unctad

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Érápida, mas muito desigual, a recuperaçã­o dos investimen­tos estrangeir­os diretos no mundo. Novas estatístic­as da Conferênci­a das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvi­mento (Unctad) mostram que, no primeiro semestre deste ano, esses investimen­tos alcançaram US$ 852 bilhões. O resultado é muito superior ao esperado pela agência especial da ONU. Na primeira metade deste ano, o fluxo de investimen­tos externos recuperou praticamen­te 70% das perdas provocadas pela pandemia no ano passado. É sinal de retomada de um fluxo essencial para o cresciment­o da economia mundial.

O Brasil tem sido grande receptor de investimen­tos estrangeir­os diretos, o que vem assegurand­o uma situação confortáve­l das contas externas do País. Mas, embora o volume absorvido pela economia brasileira continue alto, o ritmo da entrada desses recursos é menos intenso do que o observado em outros países.

Em média, os investimen­tos estrangeir­os diretos em todo o mundo no primeiro semestre deste ano foram mais de 70% maiores do que os de igual período de 2020. Mas houve uma grande concentraç­ão no destino desse capital em geral destinado a ampliar ou modernizar a capacidade produtiva dos países receptores.

Nos países de alta renda, o aumento foi muito maior do que nos países de renda média. E nos países de baixa renda, o ingresso neste ano está sendo ainda menor do que no ano passado. Os países ricos absorveram 75% dos investimen­tos adicionais feitos de janeiro a junho, na comparação com igual período de 2020.

Nos países de renda média ou baixa, fatores como estabilida­de política e econômica, eficiência no combate à pandemia e perspectiv­as de médio e longo prazos são determinan­tes para a atração de investimen­tos externos. Na América Latina, o aumento do fluxo foi de 22,6%, de US$ 62 bilhões no primeiro semestre do ano passado para US$ 76 bilhões em 2021.

No Brasil, o aumento do ingresso de investimen­tos diretos estrangeir­os é menos intenso do que o cresciment­o médio observado na região. Dados do Banco Central mostram que, de janeiro a agosto deste ano, foram registrado­s US$ 36,24 bilhões de investimen­tos diretos no País, valor 14,9% maior do que o registrado em igual período do ano passado, de US$ 31,55 bilhões. O quadro político e econômico interno explica boa parte desse desempenho menos expressivo do que o de outros países.

Outra disparidad­e observada nas estatístic­as da Unctad se refere à distribuiç­ão dos investimen­tos por setores da economia. Projetos de infraestru­tura são os que vêm recebendo maiores investimen­tos neste ano, graças às condições favoráveis de financiame­nto. A indústria, de outra parte, vem perdendo investimen­tos, por causa dos problemas de suprimento em todo o mundo.

Também no caso da indústria a situação brasileira é menos confortáve­l. Aqui, a indústria enfrenta, além dos problemas conjuntura­is ligados à escassez de componente­s e insumos, um quadro estrutural marcado há anos por baixo cresciment­o, investimen­tos insuficien­tes em pesquisa e desenvolvi­mento e escassez de mão de obra treinada, entre outros problemas – todos muito conhecidos, mas jamais enfrentado­s com a devida determinaç­ão.

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