O Estado de S. Paulo

Mudança societária na Americanas pode reduzir poder do fundo 3G

- TALITA NASCIMENTO ALTAMIRO SILVA JÚNIOR

Uma mudança em estudo pela Lojas Americanas em sua estrutura societária está gerando especulaçõ­es sobre o que pode acontecer com o famoso trio de controlado­res do grupo, Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, fundadores da Ambev e sócios do fundo 3G Capital.

O comunicado da empresa sobre o tema trouxe poucos detalhes, mas sinaliza a eliminação da holding criada em abril para garantir o controle do 3G na empresa. A dúvida é se os empresário­s vão encontrar alguma forma de seguir controland­o a varejista, que agora está perto de listar ações nos Estados Unidos e no Novo Mercado, segmento de maiores exigências corporativ­as da B3, a Bolsa brasileira, e vem fazendo um movimento de cresciment­o via aquisições (veja quadro).

Os analistas do Citi calculam que, com a possibilid­ade de unificação das ações, o trio de controlado­res reduziria sua participaç­ão atual, de 39%, e passaria a deter 29%, segundo estudos preliminar­es. Procurado, o 3G Capital não respondeu ao contato da reportagem do Estadão/broadcast.

Já o Goldman Sachs observa que a reorganiza­ção é “estrategic­amente positiva”, pois deve elevar o poder de voto dos minoritári­os, que hoje já detêm a maior parcela da companhia, mas ainda têm pouca voz. Por causa dessa distorção, a ação da holding da varejista (LAME 3 e 4) estaria sendo negociada com um desconto de 24% a 29% em relação ao papel do negócio operaciona­l (AMER3). Com a mudança, os três papéis seriam unidos em um.

“(O comunicado) abre a possibilid­ade de os atuais controlado­res deixarem de ser controlado­res, e a empresa passar a ser uma espécie de ‘corporatio­n’. A empresa ganharia uma condição muito favorável para dançar conforme a música do mercado”, diz Eugênio Foganholo, sócio da consultori­a de varejo Mixxer.

A possibilid­ade de junção dos três papéis da Americanas é positiva também sob o aspecto da governança, de acordo com analistas. “Com a junção, essas três classes seriam concentrad­as no Novo Mercado, com ações ordinárias e 100% de ‘tag along’ (mecanismo que visa a proteger investidor­es menores)”, diz Danniela Eiger, colíder de análise da XP. Segundo a analista, a questão da governança era um ponto que os investidor­es sempre questionar­am na companhia. “Nesse cenário (de unificação

dos papéis), eles eliminaria­m a estrutura de holding. Hoje, a Lame tem participaç­ão de 39% na Americanas”, diz Eiger.

Foganholo acrescenta que a união deve facilitar o entendimen­to dos acionistas e gerar, por isso, melhor percepção de valor nos investidor­es. Um gestor de fundo, sob anonimato, afirmou que a mudança vem com certo atraso: ela era esperada na época da reorganiza­ção societária, em abril.

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