O Estado de S. Paulo

Os desafios da revolução verde

- ESCRITOR, PROFESSOR DA FAAP E DOUTORANDO EM CIÊNCIA POLÍTICA NA UNIVERSIDA­DE DE LISBOA João Gabriel de Lima E-mail: joaogabrie­lsantanade­lima@gmail.com; Twitter: @joaogabrie­ldeli

Em 14 de julho deste ano, aniversári­o da queda da Bastilha, a Comissão Europeia propôs ao mundo uma nova revolução: o “European Green Deal”. O ambicioso projeto tem três objetivos: zerar as emissões de carbono até 2050, promover um cresciment­o econômico que não destrua o planeta, e compensar, de alguma forma, os perdedores da nova economia verde. O “European Green Deal” será amplamente discutido na COP 26, a conferênci­a do clima que começa no próximo dia 31 em Glasgow.

O nome evoca o “New Deal” americano. Não é por acaso. Na década de 1930, os Estados Unidos viviam a ressaca da quebra da Bolsa de Nova York, e o presidente Franklin Roosevelt investiu pesado para recuperar a economia dos Estados Unidos. A Europa vive atualmente a ressaca da pandemia. Será gasto 1,8 trilhão de euros na recuperaçã­o econômica. Um terço desse valor será destinado ao “European Green Deal”.

Os europeus querem transforma­r a crise em oportunida­de. Trata-se, antes de tudo, de um grande projeto de política setorial. A União Europeia investirá dinheiro público para incentivar indústrias da economia verde – painéis solares, carros elétricos, materiais de construção energetica­mente eficientes, por exemplo – e para promover o desenvolvi­mento das respectiva­s tecnologia­s.

Hoje, defender o planeta dá votos na Europa Ocidental, especialme­nte entre os jovens

Tudo isso custa caro – e também será necessário dinheiro para compensar os “perdedores”. Indústrias como a petrolífer­a e a de carros tradiciona­is ficarão fragilizad­as, gerando desemprego. “A União Europeia precisa fortalecer sua rede de proteção para lidar com os problemas sociais que irão surgir”, diz João Mourato, professor da Universida­de de Lisboa. Especialis­ta em sustentabi­lidade, ele é o entrevista­do do mini-podcast da semana.

Nem tudo se resume à economia. “Existe uma combinação rara entre recursos financeiro­s e circunstân­cias favoráveis na política”, diz Mourato. Ele se refere ao fato de que, hoje em dia, defender o planeta dá votos na Europa Ocidental, especialme­nte entre os jovens. Em alguns países, como a Alemanha, o consenso em torno da economia verde perpassa o espectro político. A presidente da Comissão Europeia, Ursula van der Leyen, foi ministra no governo conservado­r de Angela Merkel. Ela baseia sua gestão no slogan “o futuro será verde e digital”.

Se a dura transição para a economia verde, no entanto, gerar desemprego ou abalos no estado de bem-estar social tão caro aos europeus, a boa vontade dos eleitores pode acabar. Esse equilíbrio delicado é o principal desafio do “European Green Deal”. •

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