Ambiguidade estratégica dos americanos garantiu estabilidade na região
Como começou a disputa entre China e Taiwan?
Taiwan se separou da China em 1949, quando as forças nacionalistas do Kuomintang, de Chang Kai-shek, se refugiaram na antiga Ilha de Formosa para estabelecerem a República da China, após perderem a guerra civil para os comunistas de Mao Tsé-tung, que tomaram o continente.
Qual é o regime atual em Taiwan?
Taiwan desfruta de um sistema democrático e é governado de forma independente. A presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, considera que Taiwan “já é independente” e rejeita o princípio de uma só China. O Partido Kuomintang, agora na oposição, é a favor de uma aproximação com Pequim e adere ao “consenso de 1992”, de que existe “uma só China”.
Como ocorreu a mudança diplomática dos EUA com relação à ilha?
Nos anos 50, a maioria dos países não reconhecia a República da China, mas as coisas começaram a mudar nas décadas de 60 e 70, quando ficou claro que o Kuomintang não voltaria ao poder em Pequim e era necessário estabelecer relações com a China de Mao. Em 1979, os EUA estabeleceram relações diplomáticas com a República Popular da China às custas de Taiwan. Ao mesmo tempo, adotaram uma política deliberadamente opaca com o governo de Taipé, conhecida como “ambiguidade estratégica”, que se abstém de indicar claramente em quais circunstâncias interviriam militarmente para defender a ilha. Essa política, enquadrada na Lei de Relações com Taiwan, evita provocar Pequim, que poderia vê-la como um pretexto para adotar uma posição mais agressiva contra a ilha, mas também pode frear qualquer inclinação de Taipé de declarar a independência oficialmente.
Qual a importância da “ambiguidade estratégica” e por que seria arriscado um compromisso firme com Taiwan?
A ambiguidade permitiu até agora certa estabilidade na região. Mas, diante da crescente agressividade de Pequim, alguns especialistas americanos, como o influente presidente do Council on Foreign Relations, Richard Haass, acreditam que “chegou a hora de os EUA seguirem uma política de clareza estratégica”. Sob o governo de Xi Jinping, a China modernizou seu Exército nos últimos anos. O presidente chinês, que deve se candidatar para um terceiro mandato no próximo ano, reafirmou recentemente que a reunificação de Taiwan com a China continental é “inevitável”. Prometeu que ocorreria por meios “pacíficos”, mas o Exército americano vê Taiwan como o próximo objetivo de Pequim, após a tomada de Hong Kong, e teme que seja difícil defender a ilha contra o Exército chinês, cuja modernização acelerada é vista com preocupação pelos EUA.