O Estado de S. Paulo

Justiça da Espanha suspende extradição de chavista para EUA

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A Justiça da Espanha suspendeu ontem a extradição do exchefe de inteligênc­ia de Hugo Chávez, o general Hugo Carvajal, para os EUA, onde é acusado de tráfico de drogas. A decisão se sobrepõe a resoluções anteriores da corte espanhola, que haviam rejeitado adiar a entrega do venezuelan­o para autoridade­s americanas.

Chefe dos serviços de inteligênc­ia venezuelan­os durante o governo de Chávez, Carvajal foi preso em setembro, em Madri, depois de passar quase dois anos foragido. Para escapar da cadeia, o general aposentado, de 61 anos, se submeteu a cirurgias plásticas, usava bigode, peruca e mudava de endereço a cada três meses, segundo a polícia espanhola.

De acordo com um comunicado do tribunal espanhol, a extradição de Carvajal foi adiada em função de um erro cometido em uma ordem judicial, apontado pela defesa do militar, o que fez a corte “concordar em suspender a entrega” do venezuelan­o para os EUA até que a falha seja corrigida. O órgão, contudo, não informou em quanto tempo a questão será resolvida.

Fontes do Judiciário espanhol afirmaram que a extradição de Carvajal ocorreria hoje, após as decisões de quarta-feira e de quinta-feira confirmare­m a entrega do militar às autoridade­s americanas.

Na quarta-feira, o tribunal ordenou a que a extradição fosse concluída assim que fosse negado o pedido de asilo de Carvajal à Espanha. Na quintafeir­a, a Justiça rejeitou novamente o adiamento, em resposta a um pedido para que o venezuelan­o participas­se como testemunha em um processo sobre financiame­nto ilegal do partido político espanhol Podemos, por governos de Venezuela e Irã.

Caso a extradição seja concluída, Carvajal seria o segundo chavista a ser entregue a autoridade­s americanas nos últimos dias. No fim de semana passado, o empresário Alex Saab, um conselheir­o próximo do presidente, Nicolás Maduro, foi extraditad­o para os EUA sob acusações de lavagem de dinheiro e vínculo com o Hezbollah.

Em resposta, Maduro suspendeu as negociaçõe­s que haviam sido abertas com a oposição no México e mandou prender seis executivos de companhias de petróleo americanas no país. Em pronunciam­ento em rede de TV, o presidente chegou a afirmar que o “império americano” teria violado leis internacio­nais para prender o diplomata venezuelan­o – Saab é colombiano, mas recebeu nacionalid­ade venezuelan­a e o título de embaixador já depois de preso. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que o caso contra Saab é antigo e não é uma represália dos EUA ao governo Maduro.

Ao contrário de Saab, no entanto, uma possível extradição de Carvajal não deve provocar a mesma comoção entre a cúpula do chavismo. Depois de ser uma figura importante no governo, o general acabou azedando sua relação com Maduro após ter apoiado publicamen­te o opositor Juan Guaidó, em 2019.

Carvajal fugiu de barco para a República Dominicana e depois voou para a Espanha, onde foi preso em 2019, a pedido dos EUA, que o acusam de ter pertencido ao chamado “cartel dos Sóis” – uma referência à divisa dos oficiais do Exército venezuelan­o que estariam envolvidos com o narcotráfi­co. Em 2011, um tribunal americano acusou Carvajal de coordenar o embarque de 5,6 toneladas de cocaína da Venezuela para o México, em 2006, que depois chegou aos EUA. •

Procurado Carvajal fugiu para a Espanha, onde foi preso em 2019, a pedido dos EUA, acusado de narcotráfi­co

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