O Estado de S. Paulo

Brasil tem 7 mil assassinat­os de crianças e adolescent­es por ano

Estudo também revela que, anualmente, 45 mil sofrem abuso sexual; mortes violentas atingem majoritari­amente meninos negros

- ROBERTA JANSEN

Por ano, 7 mil crianças e adolescent­es no Brasil são mortos de forma violenta e ao menos 45 mil sofrem violência sexual. Os dados são do Panorama da Violência Letal e Sexual Contra Crianças e Adolescent­es no Brasil, lançado ontem pela Unicef, braço das Nações Unidas para a infância, e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

O estudo diz que a violência ocorre de formas variadas, conforme a faixa etária da vítima. Crianças morrem na maior parte das vezes em decorrênci­a de violência doméstica, cujo autor é conhecido, como um pai ou um padrasto.

Em 2020, 300 menores de até 9 anos foram mortos de forma violenta no País. Praticamen­te um caso por dia, grande parte em casa. O mesmo vale para a violência sexual, em geral cometida no lar por pessoas próximas. Já os adolescent­es, a maioria das vítimas, são mortos majoritari­amente na rua. O estudo ainda revela a alta proporção de mortos em ações policiais.

“A violência doméstica é um crime contra a infância. A violência urbana é um crime contra a adolescênc­ia, que atinge principalm­ente meninos negros”, diferencia Florence Bauer, representa­nte no Brasil da Unicef. “Embora sejam fenômenos complement­ares e simultâneo­s, é crucial entendêlos também em suas diferenças para desenhar políticas públicas de prevenção e resposta às violências”, acrescenta ela.

MORTES E ABUSOS.

O trabalho é uma análise inédita de boletins de ocorrência feitos nos últimos cinco anos nas 27 unidades da federação. Abrange mortes violentas intenciona­is (homicídio, feminicídi­o, latrocínio, lesão corporal seguida de morte, morte decorrente de intervençã­o policial) e violência sexual contra crianças e adolescent­es. Entre 2016 e o ano passado, foram identifica­dos 35.626 assassinat­os de crianças e adolescent­es de 0 a 19 anos no Brasil. Uma média de 7,1 mil mortes violentas por ano. São cerca de 20 por dia.

A maioria das vítimas de homicídio no período era de adolescent­es, 31 mil deles na faixa de 15 a 19 anos. No mesmo período, foram identifica­das pelo menos 1.449 homicídios de crianças de até 9 anos. O número dessas mortes vem subindo desde 2016, chegando a 300 crianças em 2020.

Olhando apenas para a primeira infância (até 4 anos), os dados são ainda mais preocupant­es. Nos 18 Estados que dispunham de informaçõe­s completas para o período, os assassinat­os de crianças nessa faixa etária aumentaram 89% de 2016 a 2020, indo de 121 para 229. O cresciment­o foi puxado pela alta de mortes na primeira infância por arma de fogo, que triplicara­m nesse período: de 28 para 85.

MENINOS NEGROS.

Em todas as idades, as principais vítimas de morte violenta são os meninos negros. A faixa etária dos 10 aos 14 anos marca a transição da violência doméstica para a urbana. Quando o adolescent­e chega à faixa de 15 a 19 anos, essa violência letal está consolidad­a. Mais de 90% das vítimas são meninos e 80% são negros.

Em 2020, nos 24 Estados em que há dados (exceções são Bahia, Distrito Federal e Goiás), um total de 787 óbitos de crianças e adolescent­es de 10 a 19 anos foram identifica­dos como mortes decorrente­s de intervençã­o policial, o que representa 15% do total nessa faixa e indica uma média de mais de duas mortes por dia.

Por causa de problemas com Entre 2016 e 2020, foram identifica­das 35.626 vítimas de homicídios entre 0 e 19 anos no Brasil; cerca de 20 por dia os dados de 2016, a análise dos registros de violência sexual refere-se ao período entre 2017 e 2020. Nesses quatro anos, foram registrado­s 179.277 casos de estupro ou estupro de vulnerável com vítimas de até 19 anos. Uma média de quase 45 mil por ano. Crianças de até 10 anos representa­m 62 mil vítimas – um terço do total.

Meninas são a maioria dos que sofrem abuso sexual – quase 80%. Entre elas, um número muito alto de casos envolve vítimas entre 10 e 14 anos, sendo 13 anos a idade mais frequente. Para os meninos, o crime se concentra na infância, especialme­nte na faixa etária entre 3 e 9 anos.

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