O Estado de S. Paulo

O impacto da violência no emocional infantil

- Tauane Ghem, especialis­ta em Psicologia do Desenvolvi­mento

Qual o impacto psicológic­o em crianças que assistem a programas com conteúdos violentos?

Uma das reações mais frequentes a curto prazo é um aumento da ansiedade, que pode se manifestar por meio de pesadelos, flashbacks, medos variados sobretudo relacionad­os ao conteúdo da violência. Por exemplo, ao ver uma cena de morte por assalto, algumas crianças podem ficar com medo de sair na rua ou de que seus pais saiam na rua e sofram um assalto. A longo prazo, uma das coisas que mais preocupam é a banalizaçã­o da violência. Quando exposta continuame­nte a cenas de violência, a criança pode passar por um processo de dessensibi­lização e, em algumas situações, inclusive pode começar a considerá-la algo normal da vida. É preciso lembrar que cada criança é uma e, na prática, as reações a conteúdos de violência também serão singulares. Se uma criança quer assistir a essa série, como argumentar para além do “porque não pode”?

Muitas vezes, ficamos presos apenas ao conteúdo do pedido da criança – por exemplo, “está todo mundo assistindo, por que só eu que não posso?”. Ou seja, respondemo­s diretament­e à pergunta, justifican­do, por exemplo, com argumentos racionais como o fato de ter conteúdos impróprios para a idade dela, ou dizendo coisas como “você não é todo mundo”. Porém, com frequência, esse tipo de justificat­iva ‘entra por um ouvido e sai pelo outro’. Uma alternativ­a que frequentem­ente funciona é atentarmos para quais questões estão por trás de “está todo mundo assistindo, só eu não posso”. Como será que essa criança está se sentindo com todos falando da série, menos ela? Será que ela está se sentindo excluída por isso? Será que ela se sente suficiente­mente querida pelos pares a ponto de não precisar assistir ao que todo mundo está assistindo? O que será que os amigos falam sobre crianças que não viram a série? Será que essa criança está conseguind­o se inserir nos momentos em que os colegas estão brincando como imitar os personagen­s do Round 6? Estar atento a essas questões e abrir o diálogo dá a pais e professore­s uma excelente oportunida­de de, não só entender pelo que a criança está passando e empatizar com seus sentimento­s, como também de trabalhar com repertório­s para lidar com essas situações. L/C.T.

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