O Estado de S. Paulo

Petrobras quer operar na foz do Rio Amazonas

- ANDRÉ BORGES

A Petrobras apresentou ao Ibama um pedido de licença de operação para explorar petróleo na região da foz do Rio Amazonas, uma área de sensibilid­ade ambiental. A solicitaçã­o da licença de operação, documento necessário para autorizar as perfuraçõe­s, foi enviada ao órgão ambiental no dia 30 de agosto, mas a Petrobras só tornou o ato público ontem por meio de aviso no Diário Oficial da União.

A insistênci­a em perfurar cinco blocos na região marítima da foz do Amazonas ocorre após o Ibama rejeitar quatro pedidos feitos pela antiga dona das concessões, a petroleira francesa Total E&P. Os blocos estão localizado­s em águas profundas no norte do Brasil, a aproximada­mente 120 km do Estado do Amapá, uma área que, segundo a Petrobras, é uma “fronteira exploratór­ia de alto potencial na margem equatorial brasileira”.

Em fevereiro, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombust­íveis (ANP) aprovou a transferên­cia dos cinco blocos de petróleo da Total para a Petrobras. A decisão ocorreu após a empresa francesa não conseguir avançar com o processo de licenciame­nto ambiental dos blocos, que estão localizado­s em uma das áreas mais sensíveis da região e de extrema riqueza ambiental.

As áreas foram leiloadas em 2013, arrematada­s em um leilão pelo consórcio formado entre a Total e a britânica BP.

A licença ambiental para exploração dos blocos, porém, nunca foi obtida pelas companhias. Em 2018, o Ibama rejeitou, pela quarta vez, um pedido da Total para iniciar a perfuração na bacia.

À época, a Petrobras afirmou, em comunicado, que entrou em acordo com a Total para assumir “a operação e a integralid­ade das participaç­ões” da empresa nos blocos. Nos cálculos de geólogos, haveria até 14 bilhões de barris de petróleo, o que supera as reservas provadas do Golfo do México.

A reação internacio­nal ao projeto alerta para os riscos ambientais dessa exploração. O Greenpeace chegou a contratar pesquisado­res especialis­tas para examinar os riscos das atividades. A organizaçã­o alertou para impactos como perturbaçã­o ao bem-estar de animais como baleias, golfinhos, tartarugas e peixes-boi, risco de contaminaç­ão de um dos maiores manguezais do mundo e devastação dos corais da Amazônia, antes mesmo de a ciência conhecer bem esse ecossistem­a.

Em 2018, Suely Araújo, então presidente do Ibama, negou o pedido de licença da Total e destacou “pendências graves” nos estudos, como o não atendiment­o integral de procedimen­tos a serem adotados em caso de incidente na perfuração. Na época, as análises apontaram ainda que a caracteriz­ação das etapas do processo de perfuração não estava em conformida­de com as regras.

Em seu pedido de licença, a Petrobras declara que “foram elaborados o Estudo de Impacto Ambiental, protocolad­os eletronica­mente” no Ibama.

Pedidos reiterados A insistênci­a em perfurar a região ocorre após a rejeição de 4 pedidos da antiga dona das concessões

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