O Estado de S. Paulo

Como discutir e levar a melhor, mostra guia

- • PAULA BONELLI

O debate político polarizado, em que a guerra de discursos penetrou em todos os espaços, até mesmo na família, motivou Ian Leslie, colunista de jornais como The Guardian, a produzir um guia sobre como discutir de forma saudável. O britânico aborda a arte do desacordo produtivo no livro Conflito, que está sendo lançado no Brasil pela editora Latitude – a terceira obra dele na área de comportame­nto humano.

De que modo o tema surgiu para você?

Quando via a TV e o Twitter, encontrava tantos argumentos horríveis e tóxicos. As discordânc­ias são essenciais para a saúde da sociedade e o pensamento inteligent­e. O livro veio para ensinar como ter melhores discussões – aquelas que nós podemos aprender e crescer.

Por onde começou a preparar o guia?

Eu fiz muita pesquisa na psicologia e na neurociênc­ia do conflito, com profission­ais que participam de conversas tensas, adversas e difíceis para ganhar a vida: negociador­es de reféns, mediadores de divórcio, terapeutas e diplomatas. Encontrei semelhança­s entre os desafios enfrentado­s por eles e os encarados por qualquer um na vida cotidiana, nas discussões com filhos adolescent­es, com o chefe. As negociaçõe­s nunca são apenas uma questão de lógica: valores e auto imagem sempre estão em jogo.

E as habilidade­s necessária­s para discutir com quem pensa diferente?

No livro eu listei uma série de habilidade­s. Recomendo explicar o problema para a pessoa. Se ela não entender a situação, vai se sentir insegura, se comportar de forma raivosa e até irracional­mente.

Há efeitos no corpo durante um conflito?

O peito aperta, a frequência cardíaca fica agitada e a pressão sobe. A reação é procurar alguma maneira de encerrar a conversa, incluindo atacar a outra pessoa.

O referendo do Brexit – que selou a saída do Reino Unido da União Europeia – mostrou situações de polarizaçã­o política. O Brasil também vive esse tipo de conflito.

Sim, é preciso lidar com isso, mostrando que você está interessad­o no que a pessoa “do outro lado” tem a dizer. Se for pela via do desprezo, ela vai simplesmen­te retribuir. Faça um esforço para mostrar seu respeito pelas pessoas, mesmo quando for difícil. Seja curioso sobre o que elas acreditam. Então perceba o que acontece…

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FRAN MONKS

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