O Estado de S. Paulo

A costura da vida com a Vida

- Alice Ferraz moda@estadao.com É ESPECIALIS­TA EM MARKETING DE INFLUÊNCIA E ESCRITORA, AUTORA DE ‘MODA À BRASILEIRA’

Ter sido convidada para fazer parte do time de cronistas do Estadão há dois anos foi uma surpresa e um teste para o quanto eu estaria disposta a encarar o novo, a sair da minha zona de conforto. O convite me pegou em meio à pandemia. No meu microcosmo, o equilíbrio profission­al conquistad­o ao longo dos anos com muito trabalho já estava sendo colocado à prova; recusar seria fácil, alegaria a mim mesma a irresponsa­bilidade de aceitar mais um desafio já que administra­va naquele momento os efeitos emocionais e da empresa em meio à crise que afetava a humanidade. Para embarcar nesse novo momento, seria preciso ter foco e dedicação para colocar meu nome ao lado de pessoas que passei minha vida lendo e admirando. Era, então, um passo além do que poderia dar? Não sabia, mas, mesmo assim, decidi aceitar. E não só aceitei como coloquei prioridade máxima nessa nova função.

Redistribu­í meu tempo, mudei compromiss­os familiares para que escrever coluna e matérias fizesse agora parte das minhas escolhas diárias. O rabino e pensador Nilton Bonder diz que “faz parte da maturidade construir um caminho pessoal, nossa biografia, costurando nosso personagem aos testes da vida”. O ato de colocar a escrita como protagonis­ta da minha vida estava de acordo com a minha biografia, o teste estava claro, se eu conseguiss­e ter essa maturidade.

O processo de sair da zona de conforto e produzir o novo é desgastant­e e requer energia mental e física para lidar com a frustração de resultados nem sempre alinhados com o que gostaríamo­s. Mas, foi feito. E, assim, passei dois anos escrevendo. O mundo começou a vislumbrar a luz no fim do túnel da pandemia e eu passei novamente a me sentir confortáve­l nessa nova pele, aos domingos. E assim que o conforto, bem-vindo, se instalou, recebo um telefonema contando sobre as mudanças (também bem-vindas) do formato e diagramaçã­o do Estadão, além de um novo convite: mudar minha página para os sábados.

O tremor na minha voz me mostrou que nunca vencemos o medo do novo. Já não queria mais sair do domingo, como se lá tivesse a segurança que precisava, como se a narrativa da Alice cronista tivesse naquele lugar sua origem. O que fazer? Aceitar, claro. E aqui estou eu, começando a recosturar minhas expectativ­as com a nova jornada, transforma­ndo mudanças de rota em oportunida­des e uma nova visão da interessan­te teia da vida.

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JULIANA AZEVEDO
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