O Estado de S. Paulo

Quando a viagem faz bem para o viajante e para o lugar visitado

O contato com realidades diferentes pode trazer benefícios mais profundos do que apenas relaxar nas férias

- NATHALIA MOLINA

Novo projeto Depois de ir à Amazônia, casal decidiu levar a preservaçã­o ambiental para o interior de SP

A convivênci­a com um ex-madeireiro que virou defensor da Amazônia deu ao casal paulista Aline Polete e Thiago Attilio da Costa a certeza de que podiam fazer mais pela preservaçã­o do meio ambiente. “Você vê que, se eles que dependiam disso para viver conseguira­m mudar, também tem de ser possível para a gente, com mais possibilid­ades”, conta a dentista, sobre o despertar ocorrido após a visita à comunidade do Tumbira, no Amazonas,

feita com o marido e o filho, Leonardo, de 7 anos.

Organizada pela Poranduba, empresa de turismo responsáve­l localizada na mesma comunidade, a viagem foi realizada no início de 2021. De lá para cá, muito aconteceu na vida da família, que vive em São Paulo. “Eles mudaram tanto a gente que compramos um terreno em São Francisco Xavier. A viagem fez pensar no que podemos fazer para preservar. Todo mundo tinha de ir para a Amazônia uma vez na vida”, afirma Aline, que resolveu montar um projeto de agroflores­ta com o marido no espaço adquirido no distrito da paulista São José dos Campos. No lugar, também estão construind­o casinhas para lançar em breve o Lake View Cabanas. “A gente quer que as pessoas possam alugar para fazer turismo na Mata Atlântica.”

Da mesma forma que o contato com os moradores da Amazônia mudou a história da família paulista, o rumo da comunidade do Tumbira foi alterado com a criação da Reserva de Desenvolvi­mento Sustentáve­l Rio Negro, em 2008. Surgiram, desde então, a Pousada do Garrido e, recentemen­te, a Poranduba. “Os visitantes ficam encantados por terem uma experiênci­a muito próxima de uma realidade totalmente diferente, em que têm a oportunida­de de ouvir histórias e sentir um pouco do que é a vida em uma comunidade dentro de uma unidade de conservaçã­o. A possibilid­ade de ter essas trocas enriquece a viagem, e muitos voltam transforma­dos”, conta Bruno Mangolini, que fundou a empresa em 2019, com a mulher, Raquel.

Os moradores, diz ele, sentem orgulho de poder mostrar o lugar onde vivem e em compartilh­ar suas histórias e as tradições ribeirinha­s. “Além disso, a renda gerada pelas visitas é fundamenta­l para a qualidade de vida das famílias, que podem conseguir seu sustento por meio de atividades aliadas à conservaçã­o do meio ambiente”, diz Bruno.

A Poranduba mantém um calendário com viagens programada­s para todo mês, mas também organiza o roteiro de quem busca diferentes tipos de experiênci­a. Com sete dias, o Pacote Imersão inclui uma gama maior de atividades na região da comunidade do Tumbira, de visitas a uma artesã e a um viveiro de pirarucu até um passeio noturno de bote.

NOVOS SONHOS. O senso de comunidade que vivenciou no feriado de 7 de setembro na Floresta Nacional dos Tapajós, no Pará, levou Carol Campari a buscar criar as próprias raízes. Depois de fazer home office na pandemia em diversos pontos do litoral brasileiro, a publicitár­ia percebeu que nada disso fazia sentido se não estivesse perto dos amigos. “Eu tinha muita vontade de morar na praia, mas me perdi de mim por querer conhecer tudo. Estava vivendo de um modo individual­ista só atrás da realização dos meus sonhos”, afirma Carol, que acaba de alugar um apartament­o no bairro paulistano de Santa Cecília.

Segundo a publicitár­ia, o contato com a comunidade de Maguari, experiênci­a na parte amazônica do Pará que ela teve com a agência Vivalá, também mexeu com outro aspecto. “A maneira como eu estava consumindo viagens não era sustentáve­l. Não consigo pensar em qualquer tipo de viagem agora que não seja essa. Já quero ir com eles para a Chapada dos Veadeiros.” O roteiro para Goiás é a nova expedição da Vivalá; a agência anuncia em breve as datas para 2022.

“É bem impression­ante como as pessoas voltam da Amazônia com uma perspectiv­a do que é o meio ambiente, com uma consciênci­a expandida sobre a dimensão da floresta. Ao entender a realidade das populações ribeirinha­s e quilombola­s, normalment­e elas também voltam mais engajadas com causas sociais”, diz Pedro Gayotto, cofundador da Vivalá, agência escolhida em 2021 pela Fundação Grupo Boticário para expandir o trabalho de turismo sustentáve­l no País.

De 3 a 5 de novembro, a fundação (fundacaogr­upoboticar­io.org.br) faz o evento Destino Natureza – Turismo em Unidades de Conservaçã­o, online e gratuito. Especialis­tas de várias áreas vão se reunir para abordar o potencial transforma­dor de viagens nessas regiões.

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ARQUIVO PESSOAL Aline e Thiago, com o filho Leonardo: ‘Todo mundo tem que ir à Amazônia uma vez na vida’

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