Vacinação avança e 97% dos atletas da Série A tomaram ao menos a 1ª dose
Levantamento do Estadão com clubes do Campeonato Brasileiro mostra que a competição segue padrão do País e a imunização se encaminha dentro das quatro linhas
Dentro de campo, o Campeonato Brasileiro se encaminha para ser uma competição totalmente imunizada diante do novo coronavírus. Ainda que a vacinação contra a covid-19 não seja uma exigência para a disputa do torneio nacional, levantamento feito pela reportagem do Estadão com 17 dos 20 clubes que disputam a Série A mostra que mais de 97% dos jogadores receberam pelo menos uma dose da vacina. Do total, quase 1/3 já está com o esquema vacinal completo.
Os números se baseiam em informações repassadas diretamente pelos clubes. Dos times que disputam a elite do Brasileirão, apenas Athletico-PR, Fluminense e Sport não retornaram os contatos da reportagem com os dados sobre seus jogadores e a doença. Com isso, ficaram fora da pesquisa.
Entre as equipes que responderam ao levantamento, Juventude e Atlético-MG informaram já ter todo o elenco vacinado com as duas doses do imunizante contra a covid-19 – até ontem a doença deixou um saldo de mais de 605 mil mortos em todo o País. O time mineiro, na realidade, tem uma única exceção em seu elenco de 32 atletas.
Entre os treinadores da primeira divisão, 15 já estão 100% imunizados com as duas doses, enquanto apenas um aguarda a segunda etapa da vacinação. Os nomes não serão revelados. Vale ressaltar que o América-MG, um dos times entrevistados, estava momentaneamente sem técnico durante a realização da pesquisa. Depois, contratou Marquinhos Santos, que havia sido desligado pelo Juventude poucos dias antes de assumir a equipe.
A maior parte dos jogadores que disputam a Série A, contudo, tomou apenas a primeira dose do imunizante. A explicação para isso está no calendário nacional de vacinação, baseado em ordem decrescente de idade e com diferentes variações nos Estados. Como a maior parte dos jogadores tem menos de 30 anos, a imunização é mais recente. Nenhum clube passou informação de ‘não vacinados’ por ideologia.
O elenco do Atlético-MG está com a vacinação completa há mais tempo porque aderiu à campanha de imunização oferecida pela Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) aos clubes envolvidos em disputas continentais este ano. Em abril, a entidade anunciou um acordo com a chinesa Sinovac Biotech para receber, em forma de doação, 50 mil doses da vacina produzida pela farmacêutica.
De qualquer forma, o alto índice registrado na Série A chama a atenção, em especial se comparado a outras grandes ligas de futebol. Na Inglaterra, por exemplo, a Premier League encaminhou uma carta aos clubes no início do mês demonstrando preocupação pelo baixo número de imunização entre os jogadores – apenas sete dos 20 clubes tinham mais da metade de vacinados com a primeira dose.
Nos Estados Unidos, a NBA enfrenta problema semelhante, e algumas franquias estão barrando jogadores que se recusam a se imunizar. O caso mais emblemático é o do astro Kyrie Irving, armador do Brooklyn Nets. A equipe de Nova York afastou o jogador de 29 anos e anunciou que não vai oferecer uma extensão de contrato ao atleta. Irving alega “liberdade individual” para não se vacinar contra a covid. A liga norte-americana de basquete conta com 96% dos atletas vacinados, segundo Adam Silver, comissário da NBA.
PROTEÇÃO. Os bons dados de imunização no Campeonato Brasileiro ajudam a explicar o baixo índice de infectados pela covid-19 na atual edição da competição. Não há números consolidados, mas os casos têm sido isolados e não têm impactado as equipes em jogos.
Como comparação, na edição passada do Brasileirão, nada menos do que 302 jogadores e 18 técnicos da Série A tiveram covid-19. Treze das 20 equipes apresentaram surtos da doença. O Palmeiras, por exemplo, chegou a ter mais de 20 integrantes da equipe principal infectados em único mês e precisou recorrer a jogadores das categorias de base em algumas partidas. Ele não foi o único. Os surtos atingiram também times como Flamengo, Santos e Corinthians.
Vice-presidente de Patrimônio e Administração do Internacional, Victor Grunberg afirma que a chegada da vacina foi essencial para a equipe gaúcha praticamente não registrar casos de covid-19 no Brasileirão deste ano. Na edição passada, 17 integrantes do grupo colorado foram infectados, incluindo o ex-técnico Abel Braga, então com 68 anos. Todos os casos no futebol se apresentaram mais brandos, sem a necessidade de internações.
“A vacina está sendo fundamental para nos mantermos sem casos no clube, mas a constante testagem de jogadores e colaboradores foi que permitiu atuarmos na prevenção regular de surtos e contágios”, afirma Grunberg.
Desde o começo da pandemia, os times de futebol fazem testes a cada dois dias. Atletas que quebravam o isolamento eram punidos, como ocorreu com Gabriel Barbosa, o Gabigol, do Flamengo, flagrado em um cassino em São Paulo, e Patrick de Paula, do Palmeiras, que estava em restaurante com a namorada. Além da punição, eles tiveram de permanecer isolados por um período.
Grunberg conta que uma série de normas implementadas pela área de Segurança do Trabalho foram determinantes para o baixo número de contágios em todos os departamentos do Internacional, especialmente no de futebol. “A conscientização dos protocolos ocorreram por cartazes, emails, vídeos internos e, principalmente, pelos constantes feedbacks do pessoal da Segurança no Trabalho do clube.”
A vacinação de jogadores é vista por especialistas como essencial para brecar a disseminação do novo coronavírus. “É uma forma de proteção para os atletas, mas também para toda a equipe que dá suporte ao time e também à torcida, agora de volta aos estádios. A gente olha o atleta num campo, vê que ele é gigantesco e que esse atleta está distanciado, mas esquecemos que há toda uma equipe de preparação técnica que trabalha com ele durante o jogo e anteriormente ao jogo”, lembra Raphael Guimarães, que é pesquisador em Saúde Pública na Fiocruz, do Rio.
Guimarães ainda ressalta outro ponto: o bom exemplo que um jogador vacinado passa para a torcida. “Saber que o atleta está vacinado, e ele dizer que está vacinado, dá à população uma mensagem positiva de que é necessário vacinar para combater a pandemia”, diz o profissional da Fiocruz. “Existem muitas teorias que falam sobre isso. A Teoria da Difusão mostra o quão representativo é você pegar uma pessoa de destaque, que é midiática, e o quanto que uma atitude dela representa numa mudança do comportamento da população como um todo”, pontua. •
Casos isolados Diferentemente de 2020, quando equipes passaram por surtos, em 2021 os times não foram afetados
“Saber que o atleta está vacinado, e ele dizer que está vacinado, dá à população uma mensagem positiva de que é necessário vacinar para combater a pandemia”
Raphael Guimarães
Pesquisador na Fiocruz
“A vacina está sendo fundamental para nos mantermos sem casos no clube”
“A constante testagem de jogadores foi que permitiu atuarmos na prevenção regular de surtos e contágios”
Victor Grunberg
Do Internacional