O Estado de S. Paulo

A ruptura do setor elétrico está próxima

Executivo e Legislativ­o devem se sentar à mesa para repactuar o respeito à governança e uma reforma tática

- Diretor de Energia da Abrace Victor Hugo iocca

Omercado de energia entrou em ebulição após a aprovação de urgência na Câmara dos Deputados do projeto de decreto legislativ­o para cancelar reajustes tarifários de 2022, na sua maioria com aumentos entre 15% e 25%, definidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A independên­cia da agência reguladora está em jogo?

Este pode ser o início da ruptura de um setor que se reestrutur­ou com base no respeito aos contratos. Essa interferên­cia, no entanto, deve provocar uma reflexão dos rumos que o País almeja para seu mercado de energia. Um debate profundo exige que Executivo e Legislativ­o estejam sentados à mesa para repactuar não apenas o respeito à governança, mas uma reforma tática que resolva problemas que eram pequenos e se tornaram relevantes.

Antes, deve-se explicar como a tarifa é formada, sendo ela a soma dos custos com os contratos de energia, a energia extra das térmicas, a transmissã­o e distribuiç­ão, a energia que “vaza pelos fios” e o furto de energia (“gatos”). Temos ainda os custos das políticas públicas e subsídios, a iluminação pública e, finalmente, os impostos. Uma sopa de despesas que totalizara­m R$ 347 bilhões em 2021.

Nessa conta, diversos itens podem ser reduzidos com aprimorame­ntos legislativ­os e regulatóri­os. O principal é o das políticas públicas e subsídios, que superou R$ 32 bilhões. O Congresso poderia assumir o compromiss­o de não ampliar ou criar subsídios que fossem pagos pelos consumidor­es. E ir além. Aproveitan­do o senso de urgência manifestad­o, que tal aprovar o Projeto de Lei (PL) 4.012/2021? O projeto permite a retirada do peso das políticas públicas das tarifas e o insere onde deveria estar, no Orçamento da União. Esse movimento teria o efeito de reduzir a tarifa dos brasileiro­s em, ao menos, 10%. Depende exclusivam­ente dos nossos parlamenta­res.

Outras distorções do mercado de energia poderiam ser corrigidas após a aprovação do PL 414/2021, que aguarda avanços concretos na Câmara. Como se apresenta hoje, sem jabutis, o PL permitirá a evolução da cadeia do setor, como uma nova forma na contrataçã­o de energia e potência, a liberdade na compra de energia para todos os consumidor­es e a modernizaç­ão do negócio de distribuiç­ão.

Precisamos dialogar e lutar juntos para oferecer ao Brasil uma realidade possível, mas inexistent­e até hoje. A realidade de uma energia barata, limpa e competitiv­a para retomarmos o cresciment­o do País, com geração de empregos e aumento de renda. Se assim não for, e as tensões continuare­m elevadas, a ruptura é iminente e todos serão culpados.l

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil