O Estado de S. Paulo

MP do Rio pede anulação de denúncia contra Flávio por ‘rachadinha’

Investigaç­ão Procurador diz que continuida­de da acusação ficou ‘insustentá­vel’ após anulação de provas pelo STJ e pelo STF

- RAYSSA MOTTA RAYANDERSO­N GUERRA

O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) pediu ontem a anulação da denúncia por peculato, organizaçã­o criminosa e lavagem de dinheiro oferecida contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no inquérito das “rachadinha­s”. O procurador­geral de Justiça do Rio, Luciano Mattos, comunicou ao Tribunal de Justiça do Estado que, com a anulação de quase todas as provas obtidas na investigaç­ão pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a acusação formal ficou insustentá­vel.

O chefe do MP fluminense defendeu, no entanto, que o inquérito pode ser reiniciado a partir do relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeira­s (Coaf), que deu início à investigaç­ão. O relatório, revelado pelo Estadão em dezembro de 2018, apontou ocorrência de movimentaç­ões “atípicas” nas contas de Fabrício Queiroz, ex-assessor no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativ­a do Rio. Segundo o relatório, no período de um ano, foi movimentad­a a quantia de R$ 1,2 milhão nas contas de Queiroz.

A investigaç­ão iniciada a partir do relatório do Coaf apontou indícios de que Queiroz comandava um esquema em que os servidores do gabinete do filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro supostamen­te repassavam de volta para o ex-assessor parte dos seus próprios salários – uma prática conhecida popularmen­te como rachadinha.

As provas reunidas durante mais de dois anos de investigaç­ão foram anuladas após os ministros do STJ acatarem a tese dos mandatos cruzados, apresentad­a pela defesa de Flávio, segundo a qual um político mantém o foro privilegia­do se assumir um novo cargo que também dê direito à prerrogati­va. Deputado estadual até 2018, Flávio foi eleito senador naquele ano e emendou os mandatos.

Entre as provas anuladas estão a quebra de sigilo fiscal e bancário de Flávio, buscas e apreensões, e as prisões de Queiroz, apontado como operador financeiro do esquema.

Com base nesta tese, os ministros do STJ concluíram ainda que o caso não poderia ter sido processado em primeira instância. O MP do Rio recorreu no fim de 2021 ao Supremo contra a decisão. A corte, no entanto, mudou de posição e manteve o foro privilegia­do do senador.

RELATÓRIOS. Outro conjunto de provas do processo foi anulado pela Segunda Turma do Supremo em novembro do ano passado. Os ministros da Corte desconside­raram a validade dos relatórios de inteligênc­ia financeira produzidos com base em pedidos específico­s do MP e os dados obtidos a partir desses documentos.

Apenas o primeiro alerta do Coaf, o que apontou movimentaç­ões atípicas na conta de Queiroz, foi considerad­o regular, por ter sido gerado espontanea­mente.

Cabe agora ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio dar a palavra final sobre o pedido do MP para anulação da denúncia. O caso deve ser julgado na próxima semana. •

Próximo passo

Cabe agora ao Órgão Especial do TJ-RJ dar a palavra final sobre o pedido do MP

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