Em uma era pessimista, ainda há lugar para otimismo nos EUA?
Soluções
Ao não desviarmos o olhar dos nossos fracassos, nós os reconhecemos e começamos a consertá-los
Vivemos uma era de pessimismo nos EUA. O pessimismo aparece em diferentes matizes. Há o pessimismo progressista: “O país está oscilando entre o fascismo trumpista e uma nova versão de The Handmaid’s Tale. Há o pessimismo conservador: “As instituições foram capturadas pela cultura da lacração”. Há o afropessimismo: “Negros sempre foram excluídos pelo racismo sistêmico”.
Há o pessimismo dos brancos de classe média: “O país foi sequestrado por elites presunçosas que desprezam nossos valores”. Há também o pessimismo de centro: “Estamos perdendo a capacidade institucional, as normas culturais e a coragem moral para forjar concessões necessárias em quase todos os níveis da sociedade”.
Esses tipos de pessimismo podem chegar a conclusões contraditórias, mas têm como base realidades inegáveis. Em 2012, houve 41 mil mortes por overdose nos EUA. No ano passado, foram 100 mil. Em 2012, houve 4,7 assassinatos entre 100 mil habitantes. No ano passado, o índice chegou a 6,9, um aumento de 47%.
Uma década atrás, mal ouvíamos falar de roubos de carros a mão armada. Agora, a ocorrência desse crime está nas alturas. Furtos em lojas? Idem. A saúde mental estava em declínio antes da pandemia, com um aumento de 60% em episódios de depressão entre adolescentes entre 2007 e 2019. Tudo o que sabemos sobre os efeitos dos lockdowns e dos fechamentos das escolas sugere que a situação piorou.
ECONOMIA. A economia conta uma história parecida. “Os EUA do século 21 conseguiram produzir mais riqueza para os ricos, gerando menos emprego para seus trabalhadores”, disse Nicholas Eberstadt, do Ameri can Enterprise Institute. Com a perda de empregos relevantes, aumentaram as mortes de americanos brancos de classe média, com frequência por suicídio ou abuso de drogas.
A lista continua, mas você já entendeu. Mesmo sem a inflação dos tempos de Jimmy Carter, parece que vivemos uma nova era de mal-estar no estilo Carter, complementada por um presidente impopular que tende a inspirar mais pena do que confiança. Mas por que ainda estou otimista em relação aos EUA? Porque nossos adversários são frágeis.
Esta semana trouxe dois lembretes deste argumento. Em Moscou, Vladimir Putin proferiu seu costumeiro discurso do Dia da Vitória, no qual expressou sua nostalgia por um passado mítico para promover mentiras a respeito de um presente integralmente mítico, tudo em nome de uma guerra que vai mal para ele.
Enquanto isso, em Xangai, mais de 25 milhões de pessoas continuam sob rígido lockdown, numa distopia real na qual drones voam alertando os moradores por meio de alto-falantes para “controlar o desejo por liberdade”. Será que alguém ainda acha que a maneira com que a China lida com a pandemia é exemplo para o restante do mundo?
Governantes que passam a acreditar na própria propaganda errarão catastroficamente. O que me traz de volta aos EUA. Enquanto ditaduras alardeiam suas forças e escondem suas fraquezas, as democracias fazem o oposto: ficam obcecadas com as fraquezas e se esquecem de suas forças. Esta é a fonte desse pessimismo. Paradoxalmente, porém, esta também é nossa força: ao não desviarmos o olhar dos nossos fracassos, nós não apenas os reconhecemos, mas também começamos a consertá-los. LIBERDADE. Temos um histórico comprovado de desarmamento de demagogos de direita, desmistificação de ideólogos de esquerda, promoção da justiça racial, reversão das ondas de crimes, revitalização do centro político e do ideal americano. Nossos problemas podem ser grandes, mas não são insolúveis nem novos. Aqueles que não possuem nossas liberdades não terão tanta sorte. •