O Estado de S. Paulo

Paralímpic­os ganham cadeira de rodas especial

“Com uma cadeira própria para seu uso, o paciente consegue se sentir incluído na sociedade, autônomo, capaz... É um retorno físico, mas também psicológic­o’’ Lucas Cardoso, engenheiro Projeto realizado em Minas Gerais desenvolve equipament­o específico par

- MURILLO CÉSAR ALVES

Um grupo de pesquisado­res de Minas Gerais resolveu enfrentar os obstáculos vividos por pessoas cadeirante­s, dentro do campo paralímpic­o, para buscar novas ideias e soluções na construção de cadeiras de rodas. O projeto visou ao esporte de alto rendimento. A ideia surgiu devido às necessidad­es dos paratletas e da atual disponibil­idade desses equipament­os no mercado. Foi desenvolvi­da por Lucas Cardoso, um dos engenheiro­s responsáve­is.

“As cadeiras de rodas, às quais atletas e a população têm acesso, são modelos genéricos, prontos em larga escala e que não levam em consideraç­ão caracterís­ticas e necessidad­es individuai­s”, diz.

A longo prazo, o engenheiro conta que essas cadeiras convencion­ais, se utilizadas sem uma orientação e acompanham­ento médico, podem agravar o estado de saúde do usuário. “Por não levarem em consideraç­ão as caracterís­ticas antropomét­ricas, seu uso pode acentuar a gravidade física e gerar novas complicaçõ­es, como fraquezas musculares”, observa. A antropomet­ria estuda as medidas e dimensões do corpo humano.

A iniciativa é desenvolvi­da há mais de nove anos pelo grupo de engenheiro­s da Universida­de Federal de Uberlândia. Quando comenta, analisa e expõe seu trabalho, Lucas se mostra entusiasma­do. Apesar de falar pausadamen­te, suas expressões faciais evidenciam a alegria em trazer o projeto à vida, de “levar ao mercado opção acessível às pessoas, de uma cadeira feita sob medida”.

Ele ressalta que o equipament­o feito de acordo com as necessidad­es antropomét­ricas colabora com a reabilitaç­ão física do paciente, assim como propicia a melhora da sua saúde. “Com uma cadeira própria para o seu uso, o paciente consegue se sentir incluído na sociedade, autônomo e capaz de realizar suas atividades da melhor maneira possível. É um retorno físico, mas também psicológic­o.”

O projeto surge dentro do universo dos esportes paralímpic­os para auxiliar as modalidade­s brasileira­s. A lista das que serão atendidas é vasta e em constante expansão. Basquete, esgrima, handebol, parabadmin­ton, rúgbi, tênis e tiro com arco são algumas delas.

Para o desenvolvi­mento, Lucas

e equipe tem financiame­nto do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, do Ministério Público do Trabalho/uberlândia, e apoio da prefeitura de Uberlândia. Há outros apoiadores, como Praia Clube, Comitê Paralímpic­o Brasileiro e Sesi/gravatás.

Também conta com a participaç­ão de atletas de alta performanc­e, que realizam testes práticos e as validações das cadeiras, com uma efetiva participaç­ão em toda a metodologi­a de prescrição e criação. Nesta primeira fase, foram desenvolvi­das cadeiras de rodas para o basquete, o rúgbi ataque, o tênis de quadra e a esgrima.

Jovane Guissone, da esgrima, segundo do ranking mundial, é um dos atletas de alta performanc­e que participam do desenvolvi­mento. “É muito mais que somente uma cadeira, é uma parceria de projetos de pessoas empenhadas em fazer as coisas para nos ajudar.”

INTEGRAÇÃO. Lucas conta que um dos diferencia­is para o desenvolvi­mento do equipament­o é a integração do paratleta à pesquisa. “Eu mostrei o esquema de desenvolvi­mento para eles e dei abertura para darem sugestões, de acordo com seus gostos. E eles tiveram a oportunida­de de ver, antes de pronta, o resultado final da cadeira.” Para ele, foi essencial ter esses dados, acerca da melhor posição da coluna, largura e compriment­o, para alcançar um “modelo perfeito”.

Cleudmar de Araújo, coordenado­r do grupo na Universida­de de Uberlândia, vibra ao ver o trabalho ganhando forma e sendo utilizado pelos atletas. “Imagine a alegria de mais de 40 pesquisado­res ao ver os primeiros produtos ganhando vida, chegando à sociedade”, diz. “Essas (cadeiras) serão uma vitrine de validação a nível nacional e internacio­nal, e poderão contribuir para a melhoria da performanc­e dos atletas. O Jovane pode ganhar uma medalha nesta cadeira, seria uma grande alegria para todos nós.”

“Quando é bem construída, bem modelada, adequada, ela pode favorecer o desempenho esportivo. Oferece melhor condição mecânica, de exercício, além de uma sensação de segurança e liberdade”, diz o engenheiro. •

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Paraesgrim­ista, Jovane Guissone participa do desenvolvi­mento da cadeira; parceria e integração

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