O Estado de S. Paulo

Sem espaço para pisos

- Raul Velloso Consultor econômico

Échocante o cresciment­o dos gastos previdenci­ários dos entes subnaciona­is, mera decorrênci­a do que ocorre com os crescentes pagamentos aos ativos. São eles também afetados por questões de natureza demográfic­a, a exemplo do que ocorre na área federal.

Em 2011-2020 e em termos reais, os gastos municipais cresceram não menos que 167,5%, enquanto os estaduais tinham subido um pouco menos: 148,8%. Em contraste, o

Produto Interno Bruto (PIB) real nesse mesmo período mostrava queda de 6,6%. Ou seja, como é a arrecadaçã­o que, em decorrênci­a da evolução do PIB, cria o combustíve­l para financiar quaisquer aumentos de gastos, existe hoje uma completa incompatib­ilidade entre as trajetória­s da receita e da despesa.

Isso pode ser confirmado a longo prazo pelos passivos atuariais, dos entes públicos para com os servidores, como resultado desse regime tão benevolent­e que estabelece­mos em nosso país, mais recentemen­te agravado por tendências demográfic­as que se mostram cada vez mais explosivas do ponto de vista previdenci­ário.

Dividindo os passivos dos favorecido­s regimes próprios pelo número de segurados em cada grupo, para tornar os dados comparávei­s, chega-se aos seguintes e chocantes resultados em mil reais. União-civis: 839,3. Estados: 453,5. Municípios: 287,3. Ou seja, a situação da União é ainda mais complicada que a dos demais. É fato que a reforma de regras da Emenda Constituci­onal 103/2019 foi obrigatóri­a para ela. Mas não tendo sido igualmente exigível para os demais, qualquer mudança em algum ente específico tem de ser precedida de um novo e equivalent­e esforço de negociação política local.

Encontrar espaço orçamentár­io para bancar gastos adicionais é o drama pelo qual passarão os gestores públicos, especialme­nte os subnaciona­is (que não emitem moeda, como a União que, em tese, pode, para financiar seus gastos extraordin­ários), caso vários dos 144 projetos de criação de pisos salariais cheguem à sanção presidenci­al e lá virem lei. Esse número extravagan­te foi revelado pelo líder do governo na Câmara que, um tanto constrangi­do, se desculpou com a classe que fazia alarde nas galerias para aprovar o último e mais badalado projeto dessa cepa, dizendo que o atual governo estava se empenhando para identifica­r fontes capazes de bancar o novo rombo.

Fiquei a pensar por que a área econômica não estava, ali, mostrando os números chocantes do impacto desse tipo de medida. Afinal, quem pagará a conta em última instância serão os não empregados, que sofrerão as consequênc­ias da resultante derrocada nos investimen­tos em infraestru­tura.l

Gestores subnaciona­is viverão drama caso vários dos 144 projetos de criação de bases salariais virem lei

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