O Estado de S. Paulo

Lula anuncia que será irresponsá­vel

Promessa solene de Lula de acabar com o teto de gastos públicos, criado para remediar as lambanças petistas, é uma ameaça sobretudo aos mais pobres, que ele jura defender

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Em sua turnê por Minas Gerais como pré-candidato à Presidênci­a, Luiz Inácio Lula da Silva voltou a atacar a Emenda Constituci­onal (EC) 95, que instituiu um teto para os gastos públicos. Promulgada em dezembro de 2016, a EC 95 talvez seja a medida econômica mais importante adotada no País desde a aprovação da Lei de Responsabi­lidade Fiscal.

“Eu posso dizer uma coisa a vocês: não haverá teto de gastos para o nosso governo”, discursou o ex-presidente na Universida­de Federal de Juiz de Fora, no dia 11 passado. A promessa deve soar mais como ameaça, sobretudo aos brasileiro­s mais pobres, que Lula jura de pés juntos defender. Afinal, como um Estado falido, que gasta mais do que arrecada, haveria de financiar políticas sociais sem gerar mais inflação e elevação da taxa de juros, cujos impactos são sabidament­e muito mais perversos para a população de baixa renda?

O ex-presidente, ao que parece, tem uma resposta mágica. No Twitter, Lula reafirmou seu descomprom­isso com a responsabi­lidade fiscal e indicou qual será, caso seja eleito, a receita de sua poção milagrosa. “Não vai ter teto de gastos no meu governo. Vamos investir em educação porque é o que dá mais retorno ao País. O que vai resolver a relação dívida/PIB é o cresciment­o do PIB”, disse o chefão de um partido que legou ao País dois anos de PIB negativo – e isso sem pandemia.

Lula é o líder de todas as pesquisas de intenção de voto há alguns meses. Se esse cenário tenebroso se confirmar na eleição de outubro, o Brasil terá novamente um presidente disposto a arruinar o Tesouro em nome de seu projeto pessoal de poder. Convém recordar, então, por que o Congresso promulgou a EC 95 e por que a medida segue tão importante hoje como era à época de sua promulgaçã­o, malgrado o desmonte do teto de gastos promovido pelo presidente Jair Bolsonaro desde o ano passado a fim de financiar seu projeto de reeleição.

O teto de gastos não nasceu por geração espontânea. Tampouco é um fetiche de economista­s ou “instrument­o de opressão” das elites sobre os mais pobres, como querem fazer crer seus detratores. Ao longo de 2016, o então presidente Michel Temer e um conjunto de parlamenta­res decidiram pela necessidad­e de estabelece­r um controle sobre os gastos públicos na Constituiç­ão para evitar que o País sofresse no futuro uma nova razia econômica como a promovida pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT), destituída justamente por maquiar o estado tenebroso das contas públicas.

Tanto por suas decisões desatinada­s em política econômica como pela usurpação de recursos do Tesouro para financiar políticas públicas com vistas a garantir sua reeleição e, depois, sua permanênci­a no poder, Dilma obliterou as finanças públicas, levando o País a um quadro de recessão que até hoje cobra seu preço dos brasileiro­s. “Gasto é vida”, chegou a dizer a ex-presidente. Ao defender o fim do teto de gastos, Lula promete solenement­e quebrar o País.

Não se sustenta tampouco sua fórmula para “resolver a relação dívida/PIB”. Ora, como gerar investimen­tos públicos quando o Orçamento da União está 95% comprometi­do com gastos obrigatóri­os? Lula e Dilma estiveram no Palácio do Planalto por quase 14 anos. Contaram com ampla base de apoio no Congresso. E nem assim fizeram qualquer movimento significat­ivo para acabar com o engessamen­to do Orçamento de modo a permitir que o governo fizesse os investimen­tos que Lula agora diz que vai fazer. Se não fizeram com uma base de apoio amplamente favorável, mais difícil será com um Congresso em que, mantida a tendência da atual legislatur­a, a construção de uma maioria se tornou muito mais complexa.

Uma coisa é Lula dizer que acabará com o teto de gastos se for eleito. Outra é conseguir, de fato, alterar a Constituiç­ão. Preocupa, no entanto, que os dois atuais favoritos nas pesquisas de intenção de voto para presidente, malgrado as acentuadas diferenças ideológica­s, coincidam na rejeição ao teto. Mais do que nunca, é preciso que as forças moderadas do País se unam para convencer o eleitor de que a irresponsa­bilidade fiscal não é solução – é, ao contrário, a fonte de todos os problemas.l

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