O Estado de S. Paulo

Criticado, BC revê pedido de reajustes

Em contraste com os 5% cogitados pelo governo, proposta de medida provisória concedia 22% a servidores, 69,6% a diretores e 78,53% ao presidente da autarquia

- ANTONIO TEMÓTEO CÉLIA FROUFE

Em um contexto de greve e de estudo de reajuste geral de 5% para os servidores, o Banco Central (BC) chegou a enviar ao Ministério da Economia um pedido de aumento de 22% para seus analistas e técnicos, de 69,6% para os diretores e de 78,53% para o presidente da autarquia. Sob pressão, o BC retirou ontem a solicitaçã­o.

Segundo o BC, o motivo do recuo foram “inconsistê­ncias” no texto. A reportagem apurou que a proposta causou mal-estar no Ministério da Economia e foi considerad­a uma “vergonha” por membros da equipe econômica, que falaram sob a condição de anonimato, já que é quase o dobro da inflação em 12 meses até abril, de 12%. Caso aprovada, a medida representa­ria um incremento de R$ 6 mil no contracheq­ue de um analista no topo da carreira.

A proposição também foi considerad­a “descabida” porque o presidente Jair Bolsonaro já tinha anunciado que daria reajuste linear de 5% a todos os servidores e feito consultas ao Judiciário e ao Legislativ­o, que deram sinal verde. Um aumento de 22% para a equipe do BC provocaria a ira das demais categorias mobilizada­s.

O pedido fazia parte de uma minuta de medida provisória de reestrutur­ação das carreiras no órgão. O texto, ao qual o Estadão/Broadcast teve acesso, previa reajustes já em junho.

Os funcionári­os do BC, desde o dia 3 em greve pela segunda vez no ano, pleiteiam pelo menos 27%. A remuneraçã­o de um analista, em média, é de R$ 26,2 mil mensais. No caso do presidente do órgão, se concedidos os 78,53%, o salário sairia de R$ 17.327,65 para R$ 30.934,70. O dos demais diretores, com 69,6%, iria de R$ 17.327,65 para R$ 29.387,96.

Apesar da alegação oficial de “inconsistê­ncias”, a minuta da MP estava pronta havia um mês e tinha sido revisada pela área de recursos humanos e pela procurador­ia do BC.

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