O Estado de S. Paulo

Doria e Simone adotam tática do ‘cada um por si’ perto de data-limite da 3ª via

Eleições 2022 PSDB e MDB têm até quarta-feira para definir chapa única e contratam pesquisa; porém, divergênci­as entre equipes dos pré-candidatos persistem e dificultam aliança

- PEDRO VENCESLAU

O MDB e o PSDB ainda aguardam o resultado de uma pesquisa quantitati­va e qualitativ­a antes de selar uma eventual aliança, mas os dois pré-candidatos – o ex-governador tucano João Doria (SP) e a senadora emedebista Simone Tebet (MS) – estão céticos sobre um acordo já na próxima quartafeir­a, data anunciada como o prazo final. Enquanto dirigentes partidário­s mantêm viva, ao menos em público, a chance de um palanque único, Doria e Simone já adotam a tática do “cada um por si”.

As equipes do tucano e da emedebista trabalham com o cenário de três “chapas puras” – o que inclui a de Luciano Bivar (União Brasil), que estava no grupo e deixou a articulaçã­o. O chamado centro democrátic­o agrega ainda o Cidadania. O discurso oficial no MDB e no PSDB é de harmonia, respeito mútuo e crença de que uma chapa será alcançada antes das convenções, que ocorrem entre o fim de julho e o começo de agosto.

“Cada um pode ir por si, mas lá na frente estaremos juntos novamente. São três candidatur­as que se respeitam e se gostam, ainda que em campanhas independen­tes. O nosso objetivo é o mesmo: salvar o Brasil e os brasileiro­s”, disse Doria ao Estadão. A terceira via quer disputar os eleitores que rejeitam a polarizaçã­o entre ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Na mesma linha de Doria, Simone afirmou que o que os une é muito maior do que divergênci­as. “Não há necessidad­e de afinar discurso. Temos o mesmo foco. Sem dúvida podemos nos unir mais para frente. Uma semana em política é uma eternidade, o que dirá dois meses”, declarou. A senadora, por sua vez, disse que o MDB honra acordos e, por isso, a data-limite está mantida.

PESQUISA. A pesquisa será feita neste fim de semana na tentativa de ajudar na definição do nome. Os marqueteir­os de Doria e Simone concordara­m com a contrataçã­o do professor de Estatístic­a Paulo Guimarães, dono do Instituto Guimarães de Pesquisa e Planejamen­to (IGPP), mas, nas conversas prévias, houve discordânc­ias sobre o questionár­io.

Estrategis­ta da emedebista, Felipe Soutello queria ampliar a qualitativ­a e acrescenta­r até 30 “atributos” a serem apresentad­os aos entrevista­dos – o que trataria, por exemplo, do fato de Simone ser mulher. O pleito foi vetado por Lula Guimarães, marqueteir­o de Doria. Já o grupo do tucano teria sugerido deixar de fora a rejeição, o que também foi negado. O questionár­io será enxuto.

Apesar de considerar a qualitativ­a benéfica a Doria, o grupo de Simone e tucanos da Executiva do PSDB disseram acreditar que é muito difícil que o resultado final seja favorável ao ex-governador, já que, se ele estiver na frente na quantitati­va, deve ser na margem de erro.

Após a apresentaç­ão, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, vai convocar uma reunião da Executiva. Nesse ponto, há convergênc­ia na leitura dos dois lados de que o cenário mais provável é que o partido siga seu caminho até julho, quando haverá as convenções.

O grupo de Doria deixou claro que não vai aceitar a imposição de retirada de candidatur­a e argumentou que o resultado das prévias do ano passado credenciam o ex-governador a ter a palavra final. O MDB sinalizou que aceita ter Doria de vice de Simone, mas ele rechaça.

‘ASSIMETRIA’. “Com todo o respeito à senadora Simone Tebet, mas essa disputa é assimétric­a em relação ao currículo. É uma desproporç­ão comparar uma ex-prefeita de Três Lagoas, que tem 120 mil habitantes, o mesmo que (o bairro) Pinheiros (na capital), e o João, que foi governador e prefeito da quarta maior cidade do mundo”, disse Guimarães.

Já Soutello faz outra leitura. “Simone não tem rejeição a ser combatida para construir sua imagem e, portanto, tem mais facilidade de quebrar a inércia e combater a polarizaçã­o”, disse. Questionad­o sobre o comentário de Guimarães, o marqueteir­o foi diplomátic­o. “Não se trata de uma disputa entre Doria e Simone, mas da construção de um centro democrátic­o”, afirmou.

SURPRESA. Desafeto de Doria no PSDB, o deputado Aécio Neves (MG) surpreende­u colegas anteontem na reunião da Executiva, em Brasília, ao criticar a adoção da pesquisa como critério e um eventual apoio do partido a Simone, possibilid­ade que agrada a parte da bancada e da cúpula da sigla.

“O que faz um partido crescer, inclusive no Congresso, não é maior fundo eleitoral, como defendem alguns, mas uma candidatur­a presidenci­al. De preferênci­a com baixa rejeição e competitiv­a”, disse Aécio ao

Estadão. O deputado avalia que não seria uma boa estratégia amarrar a sigla ao MDB.

Em outra intervençã­o, o exprefeito de Porto Alegre Nelson Marchezan defendeu a inclusão na pesquisa do PSDB e do MDB do nome do ex-governador gaúcho Eduardo Leite – aliado de Aécio –, o que foi negado no encontro. Leite perdeu as prévias para Doria. Mesmo assim, tentou disputar a vaga de candidato, sem sucesso. •

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