O Estado de S. Paulo

O fim dos 200 anos de neutralida­de sueca

- STEVEN ERLANGER É JORNALISTA

Oregimento sueco de Gotland fica na ilha de mesmo nome, um ponto estratégic­o que controla o espaço aéreo e naval do Báltico. Desde 2018, ele está em reformas para expandir dos atuais 400 soldados para 4 mil – ainda longe do 25 mil da Guerra Fria.

Em uma grande mudança de sua política de segurança, acelerada pela invasão russa da Ucrânia, a Suécia está reaprenden­do a ser uma potência militar. Puxada por seu parceiro estratégic­o, a Finlândia, o país confirmou que pedirá a adesão à Otan, encerrando mais de 200 anos de neutralida­de.

O novo comandante do regimento de Gotland, coronel Magnus Frykvall, tem uma visão clara da defesa da Suécia. “Se você possui Gotland, controla o sul do Báltico”, disse. Aderir à Otan é uma decisão política, disse Frykvall, de 47 anos, mas ele se diz a favor.

ALERTA. Se a anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014, foi um alerta silencioso, a invasão da Ucrânia foi um incêndio de grandes proporções. “Tivemos nosso sono tranquilo, mas é hora de acordar”, disse Robert Dalsjo, diretor da Agência Sueca de Pesquisa de Defesa. “O sonho acabou.”

O debate sobre a adesão da Suécia ainda será um psicodrama dentro do Partido Socialdemo­crata, que está no poder. Mas parece um caminho sem volta. Os EUA, em silêncio, e o Reino Unido, em voz alta, forneceram garantias de segurança a suecos e finlandese­s, enquanto seus pedidos são ratificado­s. “Para Suécia e Finlândia, os tempos mudaram”, disse Bjorn Fagersten, do Instituto Sueco de Assuntos Internacio­nais. “É um novo normal, um novo mundo.”

A última vez que Gotland foi invadida, em 1808, foi pela Rússia. Os 1.800 russos foram expulsos em um mês, mas, como um tiro de despedida, a Rússia arrancou a Finlândia dos suecos. Apenas seis anos depois, em 1814, a Suécia travou sua última guerra.

Assim, a Rússia sempre foi uma ameaça aos países nórdicos. A frota russa em Kaliningra­do fica a 360 quilômetro­s de distância, assim como seus mísseis nucleares Iskander. “As suspeitas com a Rússia remontam a 700 anos”, disse Niklas Granholm, da Agência Sueca de Pesquisa de Defesa. “Esta guerra na Ucrânia não será esquecida, porque é assim que a Rússia é.” •

Novas ameaças

Adesão da Suécia à Otan representa uma mudança radical da política sueca de segurança

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