O Estado de S. Paulo

Vamos viver a era pós-vargas?

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Adriano Pires

Diretor do Centro Brasileiro de Infraestru­tura (CBIE)

Odebate político, em particular durante períodos eleitorais, mostra cada vez mais não ter o menor sentido a existência de empresas de capital misto e estatais no Brasil. Se realmente queremos beneficiar a sociedade com as riquezas que essas empresas geram, só conseguire­mos isso através da privatizaç­ão.

Hoje, o grande beneficiár­io não é a sociedade, mas a corporação dessas empresas, que criaram um sistema imunológic­o que repele qualquer ser estranho aos seus interesses. No final do dia, essas corporaçõe­s ficam com os ativos das empresas e deixam para a sociedade o passivo. Daí a importânci­a de concluir o processo de capitaliza­ção da Eletrobras ainda neste primeiro semestre.

Há anos se tenta a privatizaç­ão da Eletrobras sem sucesso. No governo Fernando Henrique se privatizou com sucesso a Vale em 1997 e, em 1998, foi a vez da Telebras. Essas privatizaç­ões trouxeram inúmeros benefícios para a sociedade brasileira. A privatizaç­ão da Eletrobras me lembra a da Vale.

Com certeza, a Eletrobras será uma das maiores e mais eficientes corporaçõe­s na área de energia no mundo, investindo, gerando empregos e pagando dividendos para seus acionistas.

Assim, só faltará privatizar a Petrobras para que finalmente possamos viver a era pós-vargas.

Faz sentido o Estado brasileiro ser o controlado­r de uma empresa de petróleo no momento em que o mundo discute a transição energética? Faz sentido, num país com tantas questões sociais precisando ser resolvidas, o Estado controlar uma empresa de petróleo? Vamos cometer esse crime com as gerações futuras de brasileiro­s?

No Brasil, o intervenci­onismo/populismo e o monopólio da Petrobras sempre representa­ram uma barreira à concorrênc­ia e à atração de investimen­to em toda a cadeia da indústria de óleo e gás natural. Esses dois conceitos sempre caminharam e cresceram de mãos dadas. A simbiose perfeita. Não é por acaso que os defensores do monopólio são os mesmos que preconizam as políticas intervenci­onistas como a do controle de preços. Precisamos discutir no âmbito do Congresso Nacional o modelo adequado da privatizaç­ão. Será algo semelhante ao da Eletrobras, criando uma corporação? Ou melhor seria dividir a Petrobras em várias empresas? A discussão está aberta.

É sempre bom lembrar o que eu chamo de profetas antes do seu tempo: Paulo Francis e Roberto Campos. Segundo Paulo Francis, “a Petrobras é uma excrescênc­ia arcaica e nos custa os olhos da cara”. Para Roberto Campos, “quando for escrita a história econômica do Brasil, campanhas econômico-ideológica­s como a do ‘o petróleo é nosso’ serão vistas como uma procissão de fetichista­s anti-higiênicos, capazes de transforma­r um líquido fedorento num unguento sagrado”. •

Faz sentido o Estado controlar uma empresa de petróleo enquanto o mundo discute a transição energética?

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