O Estado de S. Paulo

Vale põe à venda áreas invadidas no Pará

Mineração Exploração ilegal de manganês Mineradora tem direito de exploração na região de Marabá há mais de 20 anos, mas invasões transforma­ram o local em potencial fonte de grande passivo ambiental

- ANDRÉ BORGES

No início de abril, empresário­s do setor de mineração receberam uma proposta de negócio da Vale. Em termos sigilosos, a oferta comercial detalhava a venda de seus direitos minerários para explorar oito áreas gigantesca­s de manganês na região de Marabá, no Pará. Na carta enviada por email, a empresa narra o potencial de exploração de mais de 12 mil hectares com abundância do minério que é usado para produção de aço. Mas deixa claro: o comprador terá de assumir todo e qualquer passivo ambiental da área, sejam estes danos “existentes e futuros, conhecidos ou não”.

A Vale defendeu as “mineraliza­ções promissora­s” do que batizou de “Projeto Buriti”, mas tratou de incluir em suas explicaçõe­s que “a área foi invadida por terceiros”. Imagens dessas áreas, obtidas via satélite, mostram que, apesar de a mineradora nunca as ter explorado, mantendo apenas a exclusivid­ade desse direito, a extração ilegal do manganês é grande. São atividades sustentada­s por maquinário pesado e por centenas de caminhões, que retiram milhares de toneladas de minério, em plena luz do dia, sem nenhum embaraço.

VIROU PASSIVO. Dona desses direitos de exploração há mais de 20 anos, a Vale viu o projeto se transforma­r, na prática, em um enorme passivo financeiro. Agora, decidiu vender esses ativos, que podem gerar uma conta ambiental difícil de calcular.

Segundo apurou o Estadão, a companhia confirma que a área foi invadida e que “vem sendo objeto de lavra clandestin­a desde 2014”. Em relação às ações criminosas, a empresa diz que, “ao longo dos últimos anos, tomou conhecimen­to da existência de lavra ilegal em área de direitos minerários da empresa”. E informou que tem feito denúncias à Agência Nacional de Mineração (ANM) e à Polícia Federal há oito anos, mas sem obter êxito na desocupaçã­o. Por não ser a dona da terra, mas só do direito de extração, disse que “sequer tem acesso ao local ou legitimida­de para retirar eventuais invasores”.

Questionad­a sobre que medidas tomou, a ANM declarou que “tem trabalhado no combate à lavra ilegal nas áreas de Vila União e Sereno”, seja por “operações de fiscalizaç­ão nas minas, seja na comerciali­zação do minério de manganês, nos portos e áreas lindeiras”. Reportagem publicada pelo Estadão em abril mostrou que a exportação de manganês tem sido marcada ao longo dos anos por esquemas fraudulent­os montados para driblar órgãos de controle. •

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