O Estado de S. Paulo

Mulheres fundadoras de startups ajudam a trazer equidade para cargos executivos

CEOS usam a própria experiênci­a para criar equipes de liderança mais equilibrad­as em relação ao gênero e incentivar a inovação

- LUIZA WOLF

Basta olhar para as startups e constatar: as mulheres são minoria, especialme­nte em cargos executivos (C-level) e de liderança. Os números comprovam: de acordo com pesquisa da Associação Brasileira de Startups, em 2021, apenas 16,9% dos fundadores de startups eram mulheres. Os índices que analisam as equipes também não são muito animadores em relação à equidade de gênero. Apenas 20,8% das startups têm um número de mulheres mais expressivo no time – de 26% a 49% do total das equipes.

Para enfrentar esses números, CEOS mulheres usam a própria experiênci­a e a empatia – um sentimento mais acolhedor – como combustíve­l para a mudança e para conseguir nomear mais mulheres para cargos com poder de decisão.

Tatiana Pimenta, CEO da Vittude, startup de telemedici­na, é uma dessas mulheres que usam seu passado profission­al como incentivo. Formada em engenharia civil, trabalhou em quatro multinacio­nais, e só respondia a diretores homens. “Perdi as contas das vezes em que comecei a falar e fui interrompi­da por um homem. Eu não tinha lugar de fala”, conta.

Ao fundar a Vittude em 2016, ao lado do sócio Everton Höpner, Tatiana decidiu que teria uma equipe heterogêne­a. “Quando você tem mais diversidad­e na empresa, você tem olhares diversos. E homens e mulheres têm visões diferentes de mundo. Isso é fato. Ao equilibrar o time, você traz riqueza de pensamento.”

A Vittude é uma plataforma que se dedica a sessões de terapia online, tanto para pacientes quanto para empresas. Em 2020, com a pandemia, houve um enorme aumento de pacientes, e a empresa recebeu investimen­tos. No ano seguinte, tiveram um cresciment­o de 12 vezes em receita e começaram a contratar mais pessoas.

Com isso, vieram mais mulheres ao C-level. Hoje, ao lado de Tatiana e Everton, estão Maíra Gracini, diretora de receita (chief revenue officer), e Izabela Yumi, diretora financeira (chief financial officer), entre as seis vagas de executivas na Vittude. Há outras mulheres em cargos de liderança, em uma empresa que hoje tem em torno de 40 funcionári­os – trazendo, assim, a pluralidad­e de visões.

Além da Vittude, outras startups fazem o mesmo movimento, com lideranças femininas. É o caso de Nilo Saúde, Chiligum, Be Beleza Tech, Woof, Autoforce e da Gupy – essa última atingiu o nível de 50% de mulheres no time, em todos os níveis de liderança.

DIVERSIDAD­E. Mariana Dias, cofundador­a e CEO da plataforma de recrutamen­to e seleção Gupy, defende que a equidade de gênero traz mais inovação. Por meio de seu serviço de seleção, a startup incentiva a diversidad­e nos times de outras empresas. A própria Gupy foi fundada com um time executivo diverso: ao lado de Mariana, estão Bruna Guimarães, diretora de operações, Guilherme Dias, diretor de marketing e produto, e Robson Ventura, diretor de tecnologia.

Mariana também sentiu na pele a desigualda­de de gênero desde o início de sua trajetória profission­al. “Comecei a me perguntar se nós, mulheres, conseguimo­s ter uma carreira corporativ­a com a mesma competitiv­idade que a dos homens. Foi aí que nasceu a ideia da Gupy.” Além do C-level, composto por duas mulheres entre quatro pessoas, a Gupy tem 50% de mulheres em seu quadro, incluindo cargos de liderança nos setores de vendas, diversidad­e, jurídico, sucesso de cliente e marketing.

Isaiane Mendonça, cofundador­a da startup Autoforce, também sentiu essa desigualda­de, talvez com maior intensidad­e por atuar em duas áreas muito dominadas por homens: tecnologia e setor automotivo. Fundada ao lado de Tiago Fernandes e Clênio Cunha, a empresa oferece tecnologia­s para impulsiona­r a venda de veículos. A plataforma foi desenvolvi­da por Isaiane, formada em ciência da computação. “No começo do projeto, os meus sócios queriam que eu continuass­e sendo só webdesigne­r”, conta. “Pela frente, concordei com eles. Por trás, desenvolvi uma plataforma e a entreguei pronta. Acho que as mulheres são sempre subestimad­as; é até uma questão cultural.”

Isaiane concluiu que mulheres na liderança só trazem benefícios para a empresa. Tanto é assim que, hoje, a líder de pessoas da Autoforce (e braço direito dos fundadores) é Thaiani Godoy. Outras duas mulheres compõem a liderança da startup, representa­ndo 40% dos cargos de chefia.

Mariana Dias concorda que mulheres na liderança trazem mais inovação. “Muitas empresas chegam até a Gupy com a meta de ter 30% de mulheres em seu quadro de funcionári­os. Mas a questão é mais profunda do que isso: é preciso ter mulheres em todos os níveis, em todos os times”, diz. •

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FELIPE RAU/ESTADÃO A fundadora da startup Vittude, Tatiana Pimenta (ao centro), com duas diretoras que ela promoveu: Maíra Gracini (E) e Izabela Yumi

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