Seu filho passa muito tempo nas telas? E você?
FAMÍLIA Para reduzir o tempo de uso de dispositivos quando você está com seus filhos e dar bom exemplo para eles, professora tem algumas sugestões
Semanas atrás, na terceira noite sozinha depois que meu marido tinha viajado a trabalho, mandei uma foto de nossa filha de 9 anos absorta no ipad enquanto nosso filho de 2 se empanturrava de desenhos no laptop. Se você acredita em grande parte do hype em torno dos pais e mães que prestam mais atenção nos seus dispositivos do que nos seus filhos, o uso de tela mais escandaloso ali era o meu.
Mas será que a parentalidade distraída é realmente tão ruim assim? A resposta é... às vezes. Segundo os especialistas, depende muito de como e por que estamos usando nossas telas. Assim como nos preocupamos com o efeito do tempo de tela na saúde mental de nossos filhos, devemos nos perguntar o que nosso próprio tempo de tela está fazendo com nosso senso como pais e mães.
Veja como os especialistas dizem que podemos usar dispositivos para nos ajudar a sermos melhores, e não piores.
Como definir a parentalidade distraída
Não só ficamos menos propensos a prestar atenção à segurança de nossos filhos quando estamos digitando e rolando a tela, mas também deixamos passar seus sinais emocionais e perdemos aquelas interações de qualidade, importantes para o desenvolvimento das crianças mais novas.
Antes de jogarmos os smartphones pela janela, é importante definir o que significa parentalidade distraída. “O uso do celular na parentalidade tem muitas nuances”, diz o dr. Brandon Mcdaniel, do Centro de Pesquisa e Inovação Parkview Mirro, que estudou o efeito da tecnologia em pais e filhos. Segundo ele, algumas das formas positivas são pedir apoio moral a um amigo quando você está no limite ou obter informações (“ei, Siri, por que o cocô do meu bebê está roxo?”).
Há também os momentos inevitáveis, como quando precisamos atender a uma ligação de trabalho. “O uso ocasional do celular dificilmente causará efeitos negativos a longo prazo”, garante.
Um uso mais problemático é para fugir dos sentimentos desagradáveis, como estresse, tédio e solidão. “Às vezes, pais e mães dizem que jogar ou navegar nas redes os distrai dos sentimentos negativos que estão vivenciando e que, depois, eles conseguem voltar a se envolver com seus filhos, mas isso é raro”, afirma Mcdaniel. “Mais frequentemente, esses tipos de ‘fuga’ resultam em sentimentos de culpa ou perda de tempo.”
“As pesquisas mostraram um possível ciclo em que o uso do celular perto de uma criança pode levá-la ao aumento do comportamento negativo, o que gera um maior estresse dos pais, mesmo que eles esperassem aliviar algum tensão com o uso do celular”, explica Mcdaniel. Em outras palavras, pegamos o celular porque estamos infelizes, e nós (e nossos filhos) estamos infelizes porque ficamos toda hora no celular.
Feitos para distrair
Pais e mães não devem se culpar quando não resistem a uma olhadinha no Facebook. Muitos apps e plataformas de mídia social “incentivam pais e mães a postar, reagir e consumir quantidades infinitas de conteúdo”, observa Jenny Radesky, professora-assistente de pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de
Michigan, que estuda mídia e desenvolvimento infantil.
Paradoxalmente, muito desse envolvimento com as redes piora nosso estado, e não só porque nessa hora estamos ignorando nossos filhos. Pais e mães podem ser tão vulneráveis aos aspectos de “comparar e se desesperar” de plataformas como Instagram e Facebook quanto qualquer pessoa. Radesky conta que os pais e mães que ela entrevistou disseram que “às vezes parece que outros pais estão postando ‘anúncios’ autopromocionais sobre si mesmos”.
Antes de rolar a tela
Para reduzir o tempo de tela improdutivo quando você está com seus filhos – o tipo que faz você se sentir pior consigo mesmo –, Radesky sugere criar alguns obstáculos. Por exemplo: ela diz que, se remover os aplicativos parecer um gesto extremo, você pode escondê-los em pastas para que não fiquem imediatamente visíveis quando você pega o telefone.
Ela também recomenda narrar o que você está fazendo quando está usando seu celular, tanto para envolver seus filhos (“vamos mandar uma mensagem para sua babá e dizer para ela nos encontrar no parquinho”) quanto para se responsabilizar por suas escolhas. Você não quer dizer aos seus filhos “A mamãe precisa de um segundo para ver aquela influencer que ela odeia, mas segue pela décima vez nesta hora”, quer?
Desconectar para reconectar
Além de repensar seu relacionamento com o celular, você também pode repensar seu relacionamento com as pessoas que está ignorando quando pega o celular: seus filhos. “Se você sente tédio quando está com seu filho, pergunte a si mesmo quais atividades pode fazer para que ambos curtam o momento”, conclui Roseann Capanna-hodge, especialista em saúde mental infantil e pediátrica. Encontre uma estrutura que funcione para você”, diz ela. “Se sabe que certas horas do dia fazem você sentir impaciência, frustração e vontade de pegar o celular, mude sua rotina.” •
Culpa Usar o celular para fugir de tédio e solidão resulta em sentimento de culpa ou perda de tempo