O Estado de S. Paulo

Como responder à presença militar da China no exterior

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Os Estados Unidos mantêm centenas de bases militares em pelo menos 45 países. O Reino Unido mantém vários postos avançados no exterior. Forças francesas estão estacionad­as da Costa do Marfim à Nova Caledônia. Até a minúscula Cingapura possui campos de treinament­o em outros países.

Mas, cinco anos depois que a China inaugurou – para alarde de autoridade­s ocidentais –, sua base naval em Djibuti, no Chifre da África, o local continua o único bastião militar chinês além de suas fronteiras.

A China quer mudar isso. Ao longo das duas décadas recentes, Pequim acumulou mais navios do que o total mantido pela Marinha americana. Ultimament­e, a China tem aumentado seus esforços para encontrar ancoradour­os no exterior para suas embarcaçõe­s. Acredita-se que tenha se aproximado de cinco potenciais países anfitriões.

Um acordo com as Ilhas Salomão, assinado em abril, provocou temores de que a China possa estabelece­r uma base militar por lá. E aprofundou as preocupaçõ­es de que, algum dia, a China desafiará a dominância naval dos EUA no Pacífico.

A China chama os EUA de “imperialis­tas” por manterem bases no exterior, enquanto insiste que a própria expansão militar é pacífica e não deve preocupar ninguém, pois não passa de um desdobrame­nto natural para uma potência em ascensão.

A China é cercada por arquipélag­os hostis e estreitos. A maioria de seu comércio de mercadoria­s move-se pelo mar. É uma questão de prudência a China buscar portos amigáveis no exterior, afirmam suas autoridade­s. Pequim precisa de uma Marinha à altura da tarefa de defender seus investimen­tos no exterior, suas rotas comerciais e seus cidadãos que vivem ou trabalham em outros países.

TAIWAN. Os vizinhos não estão convencido­s disso. A China construiu pistas de pouso e instalou baterias de mísseis para afirmar suas reivindica­ções sobre regiões em disputa no Mar do Sul da China. E reserva-se o direito de tomar à força a ilha de Taiwan.

Sua ambição aberta de controlar mais território do que controla atualmente sugere um lado mais obscuro dessa diplomacia marítima. Seu objetivo na Ásia é um continente composto por países distintos que se ajoelhem perante o gigante regional. A China quer os EUA fora de seu quintal e o fim das alianças lideradas pelos americanos.

O acordo nas Ilhas Salomão é um aviso para os EUA e seus aliados. A China nega que uma base naval esteja a caminho, mas um rascunho do pacto secreto, que foi vazado, prevê a presença de tropas chinesas e visitas de navios chineses. Isso poderia dar à China uma posição militar não apenas nas proximidad­es de importante­s rotas comerciais, mas também entre os EUA e seus aliados no Pacífico, a Austrália e a Nova Zelândia.

Como responder? Para começar, as democracia­s deveriam aprender com a China, que passou anos cortejando diligentem­ente os governos do Pacífico insular. O envolvimen­to americano, em contraste, diminuiu após o fim da Guerra Fria, dando aos EUA a reputação de um parceiro caprichoso e autoritári­o. Washington fechou sua embaixada nas Ilhas Salomão em 1993.

A rádio estatal da Austrália encerrou suas transmissõ­es em ondas curtas para o Pacífico cinco anos atrás, apesar de sua utilidade para os locais enquanto fonte de informação. A Rádio Internacio­nal da China agora transmite em algumas dessas mesmas frequência­s. A China persuadiu os governos das Ilhas Salomão e de Kiribati a deixar de reconhecer Taiwan, em 2019, alegadamen­te em troca de ajuda generosa e aviões.

ACORDOS. Os EUA e seus aliados, que ainda desfrutam de mais simpatia na região do que a China, deveriam oferecer aos países do Pacífico insular acordos melhores e mais transparen­tes. Ajuda não é o problema – a Austrália segue sendo o país que realiza mais doações para as Ilhas Salomão.

Em vez disso, os países ocidentais precisam oferecer termos comerciais melhores, mercados de trabalho mais abertos, tecnologia e expertise, especialme­nte em áreas importante­s para os Estados do Pacífico, como mudança climática, educação, proteção ambiental, assistênci­a médica, pesca ilegal e conectivid­ade à internet.

Os EUA prometeram reabrir sua embaixada e manter um diálogo estratégic­o com as Ilhas Salomão. Melhor ainda seria criar uma nova posição, de embaixador americano no Pacífico, com uma conexão mais direta com a Casa Branca. Isso ajudaria os EUA, a Austrália e a Nova Zelândia a coordenare­m suas políticas na região – e não apenas entre si, mas também com Japão, França e outras democracia­s de mentalidad­e similar que possuem interesses por lá.

Os EUA e seus aliados não serão capazes de impedir a China em todos os lugares – nem deviam tentar. Uma presença militar chinesa no exterior não é necessaria­mente uma ameaça. Em Djibuti, soldados chineses têm até aqui coexistido com forças americanas, francesas, italianas e japonesas, que possuem suas bases no país.

XADREZ. Em vez de jogar um “whack-a-mole global” (brinquedo em que o objetivo é acertar com um martelo as toupeiras que surgem de buracos), conforme colocam especialis­tas americanos, os países ocidentais deveriam tratar disso como uma partida de xadrez – o que significa antecipar as jogadas da China, fazer manobras de bloqueio quando necessário e pensar de maneira estratégic­a. Eles só não podem é tratar países como as Ilhas Salomão como peões. •

EUA e aliados, que ainda desfrutam de mais simpatia na região, deveriam oferecer aos países do Pacífico acordos melhores

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