O Estado de S. Paulo

Irlanda do Norte abre nova crise entre Johnson e UE

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O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, voltou ontem a ameaçar romper unilateral­mente o Protocolo da Irlanda do Norte – mecanismo que possibilit­ou um acordo comercial com a União Europeia após o Brexit. Em viagem a Belfast, ele culpou o protocolo pela crise que impede a formação de um novo governo norte-irlandês.

Johnson manteve conversas com líderes políticos da Irlanda do Norte, incluindo os nacionalis­tas do Sinn Fein e os conservado­res do Partido Unionista Democrátic­o (DUP). Após pedir a retomada das atividades legislativ­as, ele defendeu a aprovação de uma lei que permita violar o protocolo caso a UE não concorde em reabrir negociaçõe­s.

O Protocolo da Irlanda do Norte foi acertado para permitir que os britânicos deixassem o mercado único sem precisar montar novamente postos de fronteira entre a Irlanda, membro da UE, e a Irlanda do Norte, território britânico. A ausência de fronteira é parte fundamenta­l do Acordo de Paz da Sexta-feira Santa, firmado em 1998, que encerrou três décadas de violência sectária na ilha.

FRONTEIRA. O problema é que o protocolo, na prática, deixa a Irlanda do Norte vivendo sob regras diferentes do restante do Reino Unido – o que os unionistas consideram o equivalent­e à reunificaç­ão da Irlanda.

Após mais de 30 anos de integração entre Reino Unido e UE, as economias das duas Irlandas se tornaram interdepen­dentes e a imposição de qualquer controle alfandegár­io cria um atrito comercial que, além de impopular, teria impacto nos preços dos produtos.

Além disso, neste período em que Irlanda e Irlanda do Norte estiveram sob o guardachuv­a da UE, uma nova geração de católicos e protestant­es cresceu desabituad­a à violência religiosa. Pesquisas apontam que a maioria dos norte-irlandeses ainda prefere ser parte do Reino Unido, mas a diferença é bem menor hoje do que era dez anos atrás.

ELEIÇÕES. Em 2016, no Brexit, a maioria da Irlanda do Norte votou pela permanênci­a na UE. O DUP fez campanha pela saída e, durante as negociaçõe­s com a Europa, ficou cada vez mais isolado. O resultado foi a perda da maioria que tinha na Assembleia local – eleição vencida pela primeira vez pelo partido nacionalis­ta Sinn Fein, que apoia a reunificaç­ão.

Em resposta, o DUP rejeitou formar um governo e travou o funcioname­nto da Assembleia. O partido exige que Londres abandone o protocolo, o que deixou o premiê na situação difícil de ter de denunciar um tratado assinado por ele mesmo.

A UE rejeita reabrir as negociaçõe­s do Brexit e uma decisão unilateral do premiê significa a violação de um tratado internacio­nal, que afetaria a credibilid­ade do Reino Unido e permitiria que a UE revidasse com tarifas e restrições comerciais. •

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LIAM MCBURNEY / REUTERS Johnson visita fábrica de mísseis em Belfast; pressão por mudanças

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