O Estado de S. Paulo

Biden critica ataque racista e defende mais limites à venda de armas

Massacre de Buffalo Presidente pede que americanos rejeitem teoria da substituiç­ão racial, que inspirou supremacis­ta branco a matar dez negros no sábado

-

O presidente dos EUA, Joe Biden, visitou ontem a cidade de Buffalo, onde Payton Gendron, um supremacis­ta branco de 18 anos, matou dez negros no sábado. Ao prestar homenagem às vítimas, ao lado da primeirada­ma, Jill, ele afirmou que o ataque foi um ato de “terrorismo doméstico” e disse que a “supremacia branca é um veneno”.

Visivelmen­te emocionado durante seu discurso, Biden defendeu a aprovação de mais restrições ao comércio de armas, incluindo a proibição da venda para pessoas com transtorno­s mentais. Pessoas com problemas mentais já estão proibidas de comprar armas, segundo uma lei federal de 1968. No entanto, a maioria dos Estados americanos usa definições diferentes para doença mental, criando brechas legais.

“O que aconteceu aqui é simples: terrorismo doméstico”, disse. “Violência infligida a serviço do ódio e da sede de poder, que define um grupo de pessoas como inferior a qualquer outro grupo, um ódio que, através da mídia, da política e da internet, radicalizo­u indivíduos raivosos, alienados, perdidos e isolados, que acreditam que eles serão substituíd­os.”

TEORIA. Embora Biden não tenha mencionado nenhum nome, a acusação de que “mídia” e “política” promovem uma teoria supremacis­ta de olho em benefícios eleitorais ocorre em um momento de recrudesci­mento da guerra cultural, a cinco meses das eleições legislativ­as que podem mudar o comando do Congresso.

Antes do massacre de Buffalo, Gendron postou um manifesto de 180 páginas online no qual pediu que os brancos acordem e matem negros e judeus. A ideia racista de que a população branca é ameaçada por um “genocídio” serviu de base para outros massacres, como o de Christchur­ch, na Nova Zelândia, em 2019, quando o australian­o Brenton Tarrant matou 50 pessoas.

A retórica inflamada vem sendo usada pela extrema direita em várias partes do mundo. Na França, ela foi adotada pelo excandidat­o presidenci­al da ultradirei­ta, Eric Zemmour. Nos EUA, a frente de disputa mais visível está nas primárias do Partido Republican­o, nas quais os moderados lutam contra o avanço de pré-candidatos radicais ultraconse­rvadores, que são impulsiona­dos por teorias radicais e extremista­s.

Horas após o ataque a tiros em Buffalo, o pré-candidato à vaga republican­a no Senado pelo Estado do Arizona, Blake Masters, repercutiu a teoria em um tuíte. “Os democratas querem fronteiras abertas para que possam trazer e anistiar dezenas de milhões de estrangeir­os ilegais – essa é a estratégia eleitoral deles.”

CRÍTICAS. Figuras influentes do partido, como a deputada Elise Stefanik, de Nova York, estão agora sob fogo cerrado por defender publicamen­te a tese. Um dos mais criticados é o apresentad­or Tucker Carlson, da Fox News, que vem repetindo há meses a teoria de que os democratas pretendem substituir os brancos americanos por pessoas de outras raças.

Na segunda-feira, durante seu programa diário na Fox News, Carlson culpou Biden e os problemas mentais do atirador pelo massacre de Buffalo. “O que é um discurso de ódio?”, questionou o apresentad­or. “É um discurso que nossos líderes odeiam. Só porque um jovem mentalment­e doente assassinou algumas pessoas, você não pode expressar mais suas opiniões políticas em voz alta.” •

NYT, WP, REUTERS e AP

 ?? DOUG MILLS/THE NEW YORK TIMES ?? Biden ao lado da mulher Jill em Buffalo; cruzada contra racismo
DOUG MILLS/THE NEW YORK TIMES Biden ao lado da mulher Jill em Buffalo; cruzada contra racismo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil