Cupertino passou por mais de 100 locais em três países
Acusado de três assassinatos, em 2019, empresário foi preso em Interlagos, zona sul de São Paulo, usando disfarces
Preso na segunda-feira, o empresário Paulo Cupertino passou por mais de cem endereços em ao menos três países, estima o delegado Wendel Luís Pinto Sousa Silva, do 98.° DP. Ele comandou o inquérito do caso, logo após o assassinato de Rafael Miguel e dos pais, em 2019.
“Aqui, por esta delegacia, nós verificamos tranquilamente mais de cem endereços”, disse o delegado ao Estadão. Além das investigações conduzidas pelo 98.° DP, ele conta que setores especializados da Polícia Civil e também equipes da Polícia Militar participaram da busca. “Se bobear, foram mais de 300 lugares.”
Ao longo dos três anos de busca, os indícios são que Cupertino tenha se estabelecido em ao menos três países: Brasil, Paraguai e Argentina. Pinto diz que uma denúncia foi fundamental para a captura do investigado. “Recebemos uma denúncia anônima de que ele estaria na região. Após o serviço de inteligência e investigação, localizamos o local em que ele estava, fizemos campana e, após a confirmação de que era ele mesmo hospedado naquele hotel, fizemos o trabalho de combinar a prisão dele”, relata. “Ontem (segunda-feira) à tarde deu certo. Ele foi preso e reconhecido como sendo Paulo Cupertino.” O trabalho de campana realizado nas proximidades, em Interlagos, zona sul paulistana, durou cerca de dez dias. “Foi para não dar o bote errado”, diz o delegado.
DISFARCE. Conforme Pinto, provavelmente o procurado usava nome falso por onde passava. “Ele tinha objetos que mudavam cor de cabelo, cor do chapéu, cor da roupa. Ora se fantasiava de uma coisa, ora de outra. Então ele usava artifícios para não ser reconhecido.”
A polícia estima que ele estava em São Paulo havia pelo menos 30 dias. “Não sabemos porque ele voltou. Acreditamos que acabou o dinheiro e ele deve ter vindo buscar recursos com a família, com amigos”, explica o delegado.
No inquérito inicial, dois amigos de Cupertino viraram réus por acobertá-lo. “Mas isso lá na época da fuga dele, no cometimento do crime”, disse Pinto. “Agora estamos começando a investigar se há terceiros envolvidos.”
“O local em que estivemos mais perto de capturá-lo foi em uma fazenda em Eldorado, Mato Grosso do Sul. Há relatos de que ele fugiu em caminhão de melancia no mesmo dia em que chegamos”, disse a delegada Ivalda Aleixo. Ela comandou as investigações do caso na Divisão de Capturas da Polícia Civil, dedicada a cumprir mandados de prisão, que entrou no caso na semana em que o crime ocorreu.
O secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, o general João Camilo Pires de Campos, comemorou a prisão. “Matou gente em São Paulo, a gente pega”, disse o secretário em entrevista ontem à Rádio Eldorado. Cupertino era procurado havia três anos, acusado pelos homicídios de Rafael e dos pais dele, João Alcisio Miguel, de 52 anos, e Miriam Selma Miguel, de 50 anos. “Pode demorar um ano, dois, três, dez (anos). Cometeu crime em São Paulo, vai ser preso”, afirmou o general. JUSTIÇA. A irmã do ator Rafael Henrique Miguel, Camilla Miguel, disse não sentir “alegria” ou “alívio”, após a prisão de Cupertino. “Justiça está longe de ser feita, e mal sei o que vai acontecer daqui pra frente”, escreveu Camilla nas redes sociais. “Não crio expectativas, porque passei três anos me frustando e tendo quase nenhuma notícia de nada”, desabafou Camilla. “No máximo, sinto a eterna ansiedade e taquicardia de revisitar memórias e ver imagens que eu não gosto de ver.” •
Auxílio na fuga No inquérito inicial, dois amigos de Cupertino viraram réus por acobertá-lo