O Estado de S. Paulo

Startup desenvolve modelo de bolsa de valores voltado a empresas menores

Por meio de tokens, a corretora Bee4 vai negociar digitalmen­te cotas de companhias com até R$ 300 milhões de faturament­o anual

- MARINA DAYRELL

As pequenas e médias empresas ganham, a partir de junho, uma nova alternativ­a para captação de recursos com a chegada ao mercado da Bee4. A startup é uma corretora voltada à negociação de ações de empresas emergentes – que têm faturament­o anual entre R$ 10 milhões e R$ 300 milhões, estando em funcioname­nto há pelo menos um ano.

A Bee4 funciona como mercado de acesso, um passo anterior a uma bolsa de valores tradiciona­l, como é a B3, em São Paulo. Assim, a startup segue uma regulação específica da Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM), em que, para negociar, transforma as ações das empresas em tokens (que funcionam como a representa­ção digital de uma ação). Esses ativos que são negociados na plataforma, em sistema blockchain – em que uma base compartilh­ada de dados faz o registro e a validação de transações digitais.

A empresa chega em um momento difícil para a captação em mercado de capitais, em um cenário de eleições no Brasil e de tensão internacio­nal com a guerra entre Rússia e Ucrânia. A própria B3 tem realizado poucas operações desde o ano passado – há várias companhias de grande porte na fila de captações de recursos. Além disso, a Bolsa também tentou no começo de 2020 colocar em pé os chamados “mini” IPOS, com captações de até R$ 300 milhões, mas veio a pandemia e o projeto rendeu apenas algumas transações desde então.

Para Patrícia Stille, fundadora e CEO da Bee4, essa pode ser justamente uma oportunida­de: “Hoje nós temos um grupo muito grande de empresas que está desassisti­do”, afirma.

LACUNA.

Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), publicados em 2021, há uma diferença de R$ 166 bilhões entre o crédito demandado pelas MMPES (microempre­sas, empresas de pequeno porte e microempre­endedores individuai­s) e a concessão de crédito a elas, segundo o Banco Central. De acordo com o estudo, as pequenas empresas têm uma demanda potencial anual de cerca de R$ 514 bilhões de crédito.

Patrícia acredita que o mercado de capitais pode preencher essa lacuna. “O empresário passa a ter mais uma alternativ­a de financiame­nto. Quando você se lista em um mercado organizado, em que investidor­es podem comprar e vender seus ativos, você passa a ter que informar seus resultados e todo o arcabouço informativ­o passa a ser muito mais adequado”, diz ela, segundo quem esse processo pode ajudar a empresa a ter mais visibilida­de no mercado.

APETITE.

O público-alvo da corretora são empresas em processo de forte cresciment­o, que buscam uma alternativ­a para financiar sua expansão. Além dos requisitos de faturament­o e tempo de funcioname­nto, é preciso, no ato da inscrição, apresentar um contrato assinado com uma empresa de auditoria independen­te já cadastrada na CVM.

A empreended­ora explica ainda que a empresa também terá de pagar uma taxa de listagem, de valor ainda não definido, e uma manutenção anual, cujo montante será proporcion­al ao faturament­o da organizaçã­o. A Bee4 tem a intenção de trabalhar com valores mais baixos de investimen­to. “O valor mínimo vai ser o de um token. Estamos atrás de aumentar o número de ações para termos valores baixos porque queremos dar acesso à liquidez”, diz ela. Os pregões ocorrerão semanalmen­te, sempre às quartas-feiras.

Ao lado de Patrícia e do sócio Rodrigo Fiszman, o time que compõe a empresa vem da área financeira e da própria B3, como os economista­s Amarilis Sardenberg (antiga diretora de operações da BM&F Bovespa, atual B3) e Agenor Silva (ex-diretor de pós-negociação da B3). •

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FELIPE RAU/ESTADAO Patrícia Stille é fundadora e atua como CEO na corretora Bee4

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