O Estado de S. Paulo

‘Teto era para governo não crescer’, diz Guedes, em crítica à regra fiscal

Ministro da Economia diz ainda que não viu ‘proposta indecente’ na negociação do Orçamento com o Congresso Nacional

- LORENNA RODRIGUES ANTONIO TEMÓTEO

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou ontem que o teto de gastos (que condiciona a evolução das despesas públicas à inflação) impediu maior cresciment­o econômico. Ele também voltou a negar que a regra fiscal tenha sido desrespeit­ada no governo Bolsonaro. “Disseram que furamos o teto. Isso é fake news. O teto era para o governo não crescer, e não estávamos crescendo”, afirmou o ministro, durante entrevista ao programa Pânico, da Jovem Pan.

Segundo Guedes, o teto de gastos era “uma casa sem paredes”. Como mostrou o Estadão, a equipe econômica já chegou a elaborar projeções consideran­do uma mexida no teto para ampliar os gastos além da inflação. A premissa para esse cenário seria uma trajetória de queda da dívida pública.

Candidato à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro também já anunciou que pretende discutir mudanças no teto de gastos se vencer a disputa.

Ainda na entrevista de ontem, o ministro afirmou que o Congresso precisa “reassumir” o Orçamento público. “Fizemos em tempos de guerra o que os políticos não fazem em períodos de paz. A classe política mantém 96% do Orçamento carimbado e briga por 4%”, disse ele.

Apesar das críticas ao modelo – que abriu brecha para o chamado orçamento secreto –, Guedes declarou nunca ter recebido qualquer “proposta indecente”. “Não vi nenhuma proposta indecente no governo; se acontece no subterrâne­o, é outra conversa”, declarou.

LULA.

Guedes afirmou também que o cresciment­o econômico registrado nos dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que aparece à frente de Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto à Presidênci­a – ocorreu na esteira da estabiliza­ção atingida pelo País por meio do Plano Real.

Segundo ele, Lula teve seus méritos por incluir os mais necessitad­os no Orçamento público, por meio do Bolsa Família, mas reforçou que na gestão Bolsonaro o gasto com benefícios sociais foi de 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB) para 1,5% na pandemia. “Lula conseguiu crescer na esteira da estabiliza­ção anterior, mas logo acabou o gás”, afirmou.

O ministro criticou decisões judiciais que, segundo ele, teriam sido tomadas “fora das quatro linhas” – expressão que também tem sido usada por Bolsonaro. “Quando um ministro do STF sai das quatro linhas, descredenc­ia o Supremo. Eu também, de vez em quando, dou uma escorregad­a. O barulho da política abafou a realidade econômica”, declarou.

Guedes voltou a afirmar que a decisão do Banco Central (BC) de aumentar as taxas de juros na tentativa de controlar a inflação foi tomada no momento correto. Mas ele acredita que as taxas voltarão a cair no próximo ano. A declaração vem depois de o ministro ter afirmado que o BC “errou” nas suas projeções para o cresciment­o do PIB, o que gerou críticas de técnicos da autarquia. •

“O teto era para o governo não crescer, e não estávamos crescendo.”

“Quando um ministro do STF sai das quatro linhas, descredenc­ia o Supremo.”

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