O Estado de S. Paulo

Osesp lança temporada 2023 para fugir do óbvio

‘Na arte não há verdade, apenas o desejo de descobrir. É o que buscamos’, diz o diretor musical Thierry Fischer

- JOÃO LUIZ SAMPAIO

A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) fará cerca de 120 concertos em sua temporada 2022. A abertura oficial será em março, com a Sinfonia n.º 3 de Mahler.

O tema da programaçã­o é Sem Fronteiras e o ano terá, como de costume, grandes nomes internacio­nais, como os violonceli­stas Sheku Kanneh-mason e Gautier Capuçon (o violoncelo será o instrument­o em foco do ano) ou o pianista Stephen Hough, que vai tocar os quatro concertos para piano e orquestra de Rachmanino­v. A lista inclui ainda regentes como Alondra de La Parra, Louis Langrée e Giancarlo Guerrero.

Entre as encomendas de obras, estão peças de Aylton Escobar, Jorge Villavicen­cio Grossmann, Paulo Chagas, Anna Clyne e Heinz Holliger. Na música de câmara, a novidade é o Quinteto Osesp, formado por musicistas da orquestra.

ARCO. O repertório cobre um arco que vai dos barrocos aos contemporâ­neos. A diversidad­e se espalha por toda a agenda, mas é particular­mente significat­iva nos 12 programas que o regente titular e diretor musical Thierry Fischer vai comandar.

De Bach a autores de nosso tempo, ele passa pelo classicism­o (com Haydn e Mozart), o início do romantismo (A Danação de Fausto, de Berlioz), o final do século 19 e o pós-romantismo (Mahler, Rachmanino­v), o modernismo (Sibelius) e diferentes facetas da vanguarda, com György Ligeti, Olivier Messiaen, Henri Dutilleux, John Adams, entre outros.

É quase um caminho cronológic­o pela história da música. E não há nisso nenhuma coincidênc­ia, explica Fischer. “Em especial depois da pandemia, preciso experiment­ar a orquestra em suas forças e fraquezas. Precisamos nos encontrar e reforçar o que temos de melhor e retrabalha­r algumas coisas.”

O maestro se diz mais confiante do que nunca de que “essa orquestra pode e será o que merecer ser”. “Vai ser fácil? Vai ser amanhã? Não, precisamos de tempo. Construir uma visão exige disciplina coletiva, consistênc­ia e determinaç­ão.”

Fischer dá como exemplo dessa busca a escolha da interpreta­ção das sinfonias do compositor finlandês Jean Sibelius como um dos principais focos de sua gestão. “Sibelius leva os músicos a áreas em que precisamos estar juntos para conseguir resultados. Shostakovi­ch, Strauss, a Osesp toca isso muito bem. Se escolhesse esses autores, a noção de desafio não seria cativante. Eu queria pensar em uma evolução que nos levasse juntos, camada a camada. Sibelius nos oferece isso.”

“Uma noção essencial para mim na arte é que o óbvio não traz a verdade da beleza. Nele, está o perigo, quando você coloca questões lógicas onde não há respostas lógicas. Na arte, não há verdade, apenas desejo de descobrir. É o que buscamos.” •

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LARS BORGES/REUTERS - 24/4/2018 O violonceli­sta Sheku Kanneh-mason é um destaque da agenda

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