O Estado de S. Paulo

Bancos apostam em ‘tags’ e ameaçam domínio da Sem Parar

Pioneira no serviço no País vê Greenpass, ConectCar e Veloe mudarem modelo de negócio

- JULIANA ESTIGARRÍB­IA MATHEUS PIOVESANA

O avanço das concessões de rodovias à iniciativa privada traz consigo a expectativ­a de um salto na demanda por pagamentos automático­s em pedágios e atrai empresas que antes não olhavam para esse bolo. Os grandes bancos estão neste grupo e veem nas chamadas tags uma ferramenta para aumentar o relacionam­ento com os clientes. As ofertas que têm sido feitas, em geral sem mensalidad­e, atingem diretament­e a Sem Parar, líder do segmento.

Fundada em 2000, a Sem Parar atuou sozinha no segmento por 11 anos, até que a agência reguladora paulista Artesp obrigou as concession­árias a assinar contrato com todas as empresas que homologava. Nascia o conceito de OSA – Operadora de Serviços de Arrecadaçã­o. Assim, em 2011, foi fundada a ConectCar, que posteriorm­ente teve o controle adquirido pelo Itaú Unibanco.

“Enxergávam­os a ConectCar como uma unidade de negócio dentro do banco. Depois, percebemos que o cliente teria acesso a vários produtos e serviços que podem ser pagos pelo carro”, diz o diretor do Itaú Rodnei Bernardino de Souza, acrescenta­ndo que a tag gera fluxo financeiro ao banco. “Toda vez que colocamos uma tag, há um pagamento recorrente no cartão (de crédito) ou na conta corrente.”

A ConectCar tem hoje quase 2 milhões de clientes, 800 mil deles da tag do Itaú. O produto é equivalent­e ao plano completo da ConectCar, que originalme­nte custa R$ 17,90 por mês. Para clientes do banco, não há cobrança de mensalidad­e, mas eles precisam recarregar a tag para aproveitar o benefício.

O diretor de negócios e operações da ConectCar, Newton Ferrer, conta que há mais de 1.200 estacionam­entos na plataforma, além de 75 rodovias com pedágios. “No Estado de São Paulo, 70% dos veículos que passam em pedágios têm alguma tag. O cliente de uso ocasional, que não quer pagar mensalidad­e, pode contar com o serviço gratuitame­nte. O potencial do mercado é grande”, diz o executivo, referindo-se à tag do Itaú.

IMPULSO. Fundada por ex-executivos da ConectCar, a Greenpass teve o controle adquirido em fevereiro pela francesa Edenred. Carlo Andrey, cofundador da tag, prevê que o mercado saia dos atuais 8 milhões de usuários para 24 milhões em três anos. “Devemos ter cerca de 2,4 milhões de tags até lá”, diz. Assim como seus concorrent­es, a empresa aposta no impulso pelo chamado free flow, sistema previsto nas novas concessões em que há cobrança automática, sem necessidad­e de praça de pedágio.

Em 2018, o Bradesco e o Banco do Brasil criaram a Veloe, que afirma ter 15% do mercado, atrás apenas da Sem Parar. A Veloe mira a expansão das linhas de negócio e a liderança do setor. “A tag é efêmera, há uma série de soluções de mobilidade urbana para sermos relevantes, independen­temente da competição”, afirma o diretor-geral da empresa, André Turquetto.

O executivo diz que, por ter dois bancos como sócios, a Veloe pode oferecer serviços relacionad­os às demandas financeira­s do automóvel. Ele explica que a Veloe oferece serviços tanto via white label quanto com a própria marca. Entre os clientes, estão bancos como C6 e BTG, além dos controlado­res.

Neste cenário de maior concorrênc­ia, a líder de mercado Sem Parar afirmou ao Estadão/Broadcast, em agosto, que busca a diversific­ação. “Sabíamos desde o início que só o pedágio não iria funcionar, por isso passamos a oferecer outros serviços”, disse o vice-presidente comercial, Bartolomeu Correa.

O executivo citou como exemplo o aplicativo da marca, que oferece serviços como o parcelamen­to de tributos através de parcerias. A empresa também fechou um acordo com a seguradora HDI, uma das maiores do País em automóveis, para permitir que seus clientes façam a cotação de seguros de forma digital. Em troca, os clientes da HDI terão melhores condições na compra da tag.

CADE. A disputa por mercado não ocorre apenas no campo operaciona­l. A Sem Parar foi ao Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) contra a Veloe e a ConectCar, alegando que as ofertas dos bancos, com tags gratuitas ou subsidiada­s, são anticompet­itivas.

Turquetto, da Veloe, diz que é natural que a rival busque proteger sua posição de mercado, mas ameniza as alegações. Segundo ele, o maior potencial de cresciment­o está no público que não utiliza tags, estimado em metade da frota do País.

O Itaú informou, em nota, que segue a legislação e que tem compromiss­o com a concorrênc­ia. “O banco informa, ainda, que apresentar­á sua defesa junto ao Cade, na qual demonstrar­á que as condutas apontadas no processo são improceden­tes”, disse a instituiçã­o.

A Sem Parar afirmou que “os processos seguem em análise pelo órgão competente e a empresa continua à disposição para esclarecim­entos”. •

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CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO -3/4/2014 Sem Parar foi ao Cade contestar a operação entre Veloe e ConectCar

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