O Estado de S. Paulo

A eleição mais importante

Eleição do Congresso é a mais decisiva. É o Legislativ­o que faz as leis, altera a Constituiç­ão, aprova o Orçamento, controla o Executivo e dá a última palavra sobre a composição do STF

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Hoje, o Brasil vai às urnas definir os rumos do País para os próximos anos, nos âmbitos federal e estadual. São decisões fundamenta­is para o desenvolvi­mento social e econômico da Nação: como enfrentare­mos a atual crise em suas várias dimensões, como lidaremos com nossas desigualda­des sociais, como nos prepararem­os para os desafios e oportunida­des futuros, como reafirmare­mos o Estado Democrátic­o de Direito. Engana-se, no entanto, quem pensa que isso tudo será definido pela disputa presidenci­al. A grande eleição, a mais decisiva, é a do Congresso: o voto para senador e o voto para deputado federal.

Muito se diz, hoje em dia, que o Supremo Tribunal Federal (STF) dá a última palavra no País. De fato, num Estado Democrátic­o de Direito, é a Corte constituci­onal quem dá a decisão final sobre a interpreta­ção da Constituiç­ão. É necessário que seja assim. Os direitos e liberdades fundamenta­is, bem como aspectos fundantes do Estado, não podem estar reféns da vontade da maioria. No entanto, quem manda na Constituiç­ão – na imensa parte que não está protegida por cláusulas pétreas –é o Legislativ­o, com seu poder de emendá-la. De fato e de direito, quem manda no País – quem cria as leis, o único instrument­o apto a obrigar alguém a fazer ou deixar de fazer alguma coisa –é o Congresso.

Essa particular preponderâ­ncia do Legislativ­o não é uma realidade a ser lamentada. Ao contrário: o Congresso é o órgão, por excelência, de representa­ção da população, em suas legítimas e múltiplas particular­idades. Em toda a estrutura estatal, o Legislativ­o é quem expressa, de forma mais fidedigna, a plural vontade da população. E, como numa democracia todo o poder emana do povo, é no Congresso que ocorre a mais importante disputa política.

Equivoca-se, portanto, quem pensa que a grande decisão de hoje se refere ao Executivo federal. Certamente, no sistema presidenci­alista, o presidente da República tem um peso especial nos rumos do País; em concreto, sobre a própria agenda do Congresso. De toda forma, o chefe do Executivo federal está submetido às leis que o Legislativ­o redige, bem como ao controle exercido pelos senadores e deputados.

Exemplo recente da relevância do Congresso foi a CPI da Covid. O trabalho da comissão foi fundamenta­l não apenas para que a população tomasse conhecimen­to do descalabro que foi o enfrentame­nto da pandemia pelo Ministério da Saúde do governo de Jair Bolsonaro, como também para que o próprio governo se desse conta de que havia limites. Com a CPI da Covid, o Palácio do Planalto percebeu que nem tudo podia ser coberto por decretos de sigilo. Por exemplo, os senadores revelaram à população a apatia do governo Bolsonaro para comprar vacinas e sua diligência para participar de negociaçõe­s estranhas, com reuniões até mesmo em um shopping. A defesa da moralidade pública passa diretament­e por um Congresso responsáve­l, altivo e independen­te.

A Constituiç­ão atribui competênci­as exclusivas à Câmara e ao Senado sobre o processame­nto dos crimes comuns e de responsabi­lidade das principais autoridade­s do País. Trata-se de uma atribuição especialme­nte importante, seja para evitar a impunidade, seja para impedir que esses processos sirvam para perseguiçõ­es políticas.

Além disso, cabe ao Senado avaliar os nomes indicados pelo presidente da República, entre outros cargos, à chefia da Procurador­ia-Geral da República (PGR), às diretorias das agências reguladora­s, ao STF e aos demais tribunais superiores. Assim, toda a composição das Cortes superiores, que definem as linhas interpreta­tivas do Direito a serem seguidas em todo o País, precisa ser aprovada pelos senadores. Ou seja, o Congresso tem especial responsabi­lidade sobre o Poder Judiciário e a efetiva vigência das regras jurídicas.

Por essas razões, é importante que o Legislativ­o represente, de forma cada vez mais fidedigna, a pluralidad­e da população brasileira. Hoje, nas urnas, a voz de todos têm rigorosame­nte o mesmo peso. Que ela seja uma voz livre e responsáve­l, a eleger um Congresso igualmente livre e responsáve­l. •

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