O Estado de S. Paulo

Risco de violência política perdura até data da posse de novo presidente, diz relatório

Disputa polarizada, alta rejeição dos candidatos rivais e acesso facilitado a armas são fatores que preocupam

- FERNANDA SIMAS

Uma eleição presidenci­al marcada pela polarizaçã­o, alta rejeição aos dois candidatos que lideram a corrida eleitoral e o acesso facilitado às armas. A combinação, segundo analistas, leva a episódios de violência política, que vêm crescendo e tornaram uma preocupaçã­o até que o novo presidente seja empossado.

Desde o início da campanha eleitoral, a radicaliza­ção esteve presente. Hoje, no dia da votação, alguns momentos simbólicos são considerad­os os pontos mais suscetívei­s de violência e um paralelo ao que ocorreu nos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021 – quando Joe Biden foi certificad­o como presidente eleito e uma multidão de partidário­s de Donald Trump invadiu o Capitólio –, é inevitável.

“Enquanto houver a sensação de que algo pode ser feito para reverter o resultado existem riscos isolados de violência, que podem sair de uma discussão cotidiana e acabar em um homicídio, por exemplo”, disse o analista de riscos da Control Risks Mário Braga. Ele acrescenta que alguns marcos preocupam mais. “São os períodos de transição, seja do primeiro para o segundo turno, e algumas datas: o dia da certificaç­ão do ganhador pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e o dia da posse em 1.º de janeiro.”

Desde meados de 2021, o presidente Jair Bolsonaro vem ameaçando não reconhecer uma eventual derrota e acusa, sem provas, o sistema eleitoral de não ser transparen­te e nem 100% confiável. De semanas para cá, ele tem intensific­ado ataques ao presidente do TSE, Alexandre de Moraes. O que preocupa analistas é a base que foi inflamada desde então.

“O risco de violência política é muito grande porque os ânimos estão exacerbado­s e, infelizmen­te, o presidente da República vem incentivan­do esse tipo de violência. Caso se configure, por exemplo, uma vitória do Lula no primeiro turno, acho que podem ter reações violentas”, afirmou o professor Moisés Marques, coordenado­r de Relações Internacio­nais na FESP-SP.

Segundo Mário Braga, o contexto das comemoraçõ­es de partidário­s de Lula em uma eventual vitória em primeiro turno tem pontos importante­s. Equipes de segurança, nos últimos anos, têm conseguido mapear bem onde os riscos podem estar – como na Avenida Paulista ou na praia de Copacabana –, mas o dia da votação torna tal tarefa mais difícil. “Tem lugares que são os de maior concentraç­ão de pessoas, e lá há uma preparação, mas estamos falando de um contexto nacional e a possibilid­ade de mitigar isso é muito menor”, disse o analista.

ARMAS. A tensão hoje, segundo relatórios de análises de risco, pode estar presente já ao longo da votação, nas zonas eleitorais. O TSE trabalha na segurança levando em conta, principalm­ente, atos isolados de partidário­s que, independen­temente de um comando, possam ir aos locais armados, para exercer pressão.

“O que temos visto é a expansão de grupos de ultradirei­ta, um aumento da posse de armas e a retórica beligerant­e do presidente levando a um ambiente online bastante agressivo e, então, pode ocorrer esse transborda­mento do discurso para o dia a dia”, afirmou Braga.

O porte de armas e munições foi proibido pelo TSE entre sábado e segunda-feira. Mas isso não afasta completame­nte o risco de distúrbios. “Ao longo do dia, prevemos que possam ocorrer potenciais episódios de distúrbios em zonas eleitorais. Alguém que fale ‘quero levar o celular, quero levar minha arma’ e isso leva a uma discussão e pode ser usado em rede social para amplificar o questionam­ento sobre as urnas”, afirmou.

Com a facilidade do acesso a armas pelos CACs – caçadores, atiradores desportivo­s e colecionad­ores –, existe o temor de que muita gente vá armada votar. Para Moisés, esse fator amplia o risco de violência após o resultado da eleição. “O que é muito perigoso nesses próximos dias é a reação, caso Bolsonaro perca a eleição, dos apoiadores dele armados.”

CAPITÓLIO. Uma das preocupaçõ­es com a crescente violência política é que a situação chegue a tal ponto que vejamos uma cena similar à vista nos EUA, quando partidário­s de Trump invadiram o Capitólio em protesto contra a certificaç­ão da vitória de Biden.

O analista da Control Risks considera que o risco de contestaçã­o do resultado foi ampliado entre o primeiro relatório sobre a eleição no Brasil, de agosto, e o último, divulgado na sexta-feira passada. A agência, no entanto, não percebeu movimentaç­ões que levam a uma preocupaçã­o maior. “Ataques super organizado­s entram numa categoria de ‘muito improvável’”, disse Braga.

Radicalism­o Relatórios de análises de risco apontam para possibilid­ade de ataques em seções eleitorais

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