O Estado de S. Paulo

Castro testa ‘bolsonaris­mo light’, e Freixo faz acenos ao centro

Eleição para governo do Rio afunila entre dois neófitos na disputa; possibilid­ade é de haver um segundo turno

- RAYANDERSO­N GUERRA

No Estado que já teve cinco ex-governador­es presos, a eleição no Rio deve ser definida entre um candidato à reeleição que começou o mandato como vice-governador, e assumiu o cargo após a queda do titular eleito, e um deputado federal de esquerda que tenta uma guinada ao centro.

Cláudio Castro (PL) e Marcelo Freixo (PSB), que lideram as pesquisas, disputam o voto amparados na polarizaçã­o presidenci­al, marcada pelo embate entre o presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta ser reeleito, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que busca o terceiro mandato.

De desconheci­do vice-governador a comandante do terceiro maior colégio eleitoral do País, Castro assumiu o Palácio Guanabara após o impeachmen­t de Wilson Witzel (PMB), acusado de corrupção na Saúde durante a pandemia da covid-19. Witzel nega as acusações e aponta suposta montagem política, “com o dedo de Bolsonaro”, na sua deposição.

Tido como “conciliado­r”, Castro é ex-chefe de gabinete na Assembleia Legislativ­a do Rio de Janeiro (Alerj). Comandou o Rio durante dois anos – mandato impulsiona­do pelo dinheiro da privatizaç­ão da Cedae. Apesar de ser candidato à reeleição, Castro enfrenta pela primeira vez a disputa por um cargo no Executivo como cabeça de chapa.

O governador tenta se descolar dos escândalos recentes que atingiram a gestão estadual, entre eles a prisão de cinco ex-secretário­s nos últimos quatro anos e os “fantasmas” da Fundação Ceperj, suposto esquema de pagamento de servidores na boca do caixa, sem transparên­cia.

BANDEIRAS. No campo político, Castro se equilibra entre o apoio declarado de Bolsonaro e a busca pelo voto dos eleitores mais pobres, de zero a dois salários mínimos – faixa em que Lula lidera. É considerad­o um “bolsonaris­ta light”, que discretame­nte se identifica com o presidente e apenas flerta com a pauta de costumes, sem tê-la como prioridade, ao mesmo tempo em que evita ataques a Lula.

Pesquisa Ipec divulgada ontem mostra Castro à frente com 47% dos votos válidos, seguido por Freixo, com 28%. Mais atrás na disputa estão o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT), com 11%; e Cyro Garcia (PSTU), com 4%. A pesquisa foi feita entre os dias 29 de setembro e 1.º de outubro e está registrada no Tribunal Regional Eleitoral com o número RJ-01526/2022 e no Tribunal Superior Eleitoral com o número BR-05823/2022. A margem de erro é de dois pontos porcentuai­s para mais ou para menos.

Segundo a cientista política Mayra Goulart, professora da Universida­de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Castro tem o perfil de político local. Tem capilarida­de nas prefeitura­s e Câmaras. Já Freixo, na opinião de Mayra, é um “político de opinião”, com acesso à classe intelectua­lizada e espaço na opinião pública. É muito conhecido e tem margem de cresciment­o menor.

“Castro tem a máquina, mais acesso a recursos, a obras e coisas que fazem com que ele fique conhecido em diferentes regiões do Estado . Ele também tem uma relação com prefeitos e vereadores. Já Freixo é opositor. Não tem acesso à máquina. Por outro lado, Castro tem a avaliação de sua gestão, enquanto Freixo não tem o que ser avaliado.”

Diferentem­ente de Castro, o candidato do PSB aposta no padrinho para conseguir votos para chegar em um eventual segundo turno. Deputado federal, Freixo trocou o PSOL pelo PSB, mudou de opinião sobre a descrimina­lização das drogas e amenizou o tom contra os desmandos nas forças de segurança no Estado.

Na guinada rumo à moderação, Freixo tenta seguir a trajetória de Lula ao ampliar o leque de alianças. No Estado, a coligação que o apoia vai do ex-prefeito Cesar Maia (PSDB), seu candidato à vicegovern­ador, ao banqueiro Armínio Fraga.

SEGURANÇA. Crítico da política de segurança dos últimos governador­es, Freixo afirmou ao Estadão que vai manter as operações policiais nas comunidade­s da capital fluminense com o uso de blindados. Mas acena com o controle das tropas, até mesmo com a aplicação de punições em caso de desmandos. Segundo ele, “a autoridade é filha do exemplo”.

O cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio, avalia que Freixo ainda busca se desassocia­r das pautas mais à esquerda que marcaram a sua carreira política. Segundo ele, o eleitor do Rio de Janeiro ainda é, predominan­temente, mais conservado­r.

“O Rio ainda é um Estado com um eleitorado majoritari­amente conservado­r. Atestamos isso com as últimas eleições, em que Bolsonaro foi eleito com ampla maioria no Estado, e a capital foi comandada pelo bispo (Marcelo) Crivella. Freixo faz um caminho ao centro, mas ainda é marcado pelas pautas de esquerda”, disse.

Para ir ao segundo turno contra Castro, Freixo investiu na presença de Lula ao seu lado na campanha e em ataques contra o atual chefe do Executivo estadual. O pessebista aposta na crítica aos casos de corrupção envolvendo aliados do governador.

“O Rio de Janeiro ainda é um Estado com um eleitorado majoritari­amente conservado­r”

Ricardo Ismael

Cientista político da PUC-Rio

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RAFAEL CAMPOS Castro é confrontad­o com escândalos no governo
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MARCELO FREIXO/TWITTER Freixo apostou em um extenso leque de alianças

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