O Estado de S. Paulo

Bahia tem disputa entre novo carlismo e força do PT

- REGINA BOCHICCHIO

O resultado das eleições de hoje ao governo da Bahia, seja ele qual for, representa­rá um marco histórico. A disputa entre o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) e Jerônimo Rodrigues (PT) estabelece, de um lado, a possibilid­ade da quebra do ciclo de 16 anos do poderio petista e a ascensão do neocarlism­o. De outro, a chance da repetição da virada histórica de 2006, quando Jaques Wagner (PT) venceu o candidato carlista, Paulo Souto, no primeiro turno, apesar de as pesquisas apontarem vitória de seu adversário. Foi o fim de 16 anos do poder de ACM na Bahia.

Na época, Wagner teve como principal cabo eleitoral o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que concorria à reeleição. Mesmo cacife que tem Jerônimo agora: Lula tem 62% das intenções de voto na Bahia, segundo a última pesquisa Datafolha.

Embora ACM Neto ainda lidere com folga as intenções de voto, com 51% dos votos válidos nas duas pesquisas divulgadas ontem, do Datafolha e do Ipec, seguido de Jerônimo com 38% ou 40% (Ipec), as sondagens mostram uma tendência de cresciment­o do petista, mais de 20 pontos desde as primeiras pesquisas. O cenário se mantém aberto, na margem de erro. Ainda assim, a campanha do ex-prefeito aposta no voto “Luneto”, como tem sido chamado o eleitor que vota em Lula e ACM Neto.

O levantamen­to do Datafolha foi contratado pela Rádio Metrópole, da Bahia, e foi realizado entre sexta-feira e sábado, entrevista­ndo 2.500 eleitores. Ele está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com número BA00751/2022. Já o levantamen­to do Ipec, nos mesmos dias, foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BA - 01710/2022 (TRE) e BR - 05440/2022 (TSE).

ACM Neto manteve a estratégia de desnaciona­lizar a campanha e buscou ficar longe da polarizaçã­o entre Lula e Jair Bolsonaro (PL), apostando em seu bom desempenho em oito anos à frente da prefeitura de Salvador, na memória do avô, ACM, e na fragilidad­e do governo Rui Costa (PT) nas áreas de segurança, educação e saúde, principalm­ente.

Sofreu desgastes na reta final da campanha por ter se autodeclar­ado pardo no TSE em um momento em que se discute verbas para políticos negros. O fato foi tema nacional e combustíve­l para as campanhas de Jerônimo e do apoiador de Bolsonaro, o ex-ministro João Roma (PL), bem atrás nas pesquisas.

Já Jerônimo Rodrigues, exsecretár­io de Educação do Estado, que nunca concorreu a um cargo eletivo, passou de desconheci­do da maioria da população para “o candidato de Lula”. O PT baiano aposta em um segundo turno com ACM Neto. Não sem motivo, Lula teve agenda de campanha em Salvador na sexta-feira. O líder nas pesquisas na Bahia, por sua vez, realizou comício na noite de quinta-feira, no Pelourinho. Também concorrem ao governo baiano os candidatos Kleber Rosa (PSOL), Marcelo Millet (PCO) e Giovani Damico (PCB).

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