O Estado de S. Paulo

A economia sob um novo governo Lula

- COMENTARIS­TA DE ECONOMIA

Dado que a vitória de Lula nestas eleições parece mais provável, o que esperar da política econômica a partir de janeiro?

A questão-chave é o tratamento a ser dado às contas públicas, hoje desorganiz­adas. Ao contrário do que aconteceu em 2002, quando se compromete­u, por meio da Carta ao Povo Brasileiro, a “preservar o superávit primário o quanto for necessário”, desta vez o candidato Lula preferiu se omitir. Apenas vem afirmando que “a responsabi­lidade fiscal torna dispensáve­l o teto dos gastos”. Mas não disse como seria assegurada essa responsabi­lidade nem que âncora fiscal entraria no lugar do teto.

Embora se espere do governo PT mais intervençã­o do Estado nos mercados e uma política econômica mais frouxa quanto à aplicação de recursos públicos, é improvável que se repitam, pelo menos no início de seu governo, as mesmas irresponsa­bilidades e as mesmas pedaladas fiscais que se viram no governo Dilma, com Guido Mantega na Fazenda. O PT continua a martelar que o “equilíbrio fiscal não é um fim, mas um meio”, o que dá a entender que certos desequilíb­rios podem ser tolerados.

Dos outros temas também se sabe pouco, até porque a campanha do PT preferiu não divulgar as propostas definitiva­s de governo para a área econômica e ambiental.

Sobre as questões trabalhist­as, sabe-se que a ideia é restabelec­er alguma forma mais firme de financiame­nto dos sindicatos, não propriamen­te por meio de um imposto sindical à moda antiga, mas por acordo coletivo que determine a porcentage­m e seu desconto do salário mensal, mesmo de quem não seja sindicaliz­ado.

O texto provisório do programa do petista repele a desestatiz­ação. Quer a reversão da privatizaç­ão da Eletrobras – o que não seria fácil – e rejeita a das subsidiári­as e das refinarias da Petrobras. Lula repetiu que pretende “abrasileir­ar os preços dos combustíve­is”, embora nunca tenha deixado claro o que isso implicaria.

As políticas industriai­s tanto dos governos Lula como nos de Dilma deram errado e foram incapazes de reverter a desidrataç­ão da indústria de transforma­ção. Lula pretendeu, então, ressuscita­r a indústria naval e encomendar plataforma­s de petróleo de estaleiros locais, o que acabou em graves atrasos e custos altíssimos. Fracassara­m as políticas impostas ao BNDES de favorecer os “campeões do futuro”. O projeto é usar os recursos do BNDES para catapultar pequenas e médias empresas. Falta saber com que critério.

Não há também indicações de como o provável governo Lula dará seguimento às reformas de base, a da administra­ção pública, a das instituiçõ­es políticas e a da área tributária.

Em síntese, embora ninguém espere murros em ponta de faca, a política tenderá a ser mais intervenci­onista. A nomeação do ministro da área econômica poderá deixar isso mais claro. E falta saber com que apoio um governo Lula contará no Congresso.

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MARCOS MÜLLER/ESTADÃO
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