O Estado de S. Paulo

O rei dólar e o real

- Paulo Leme paulo.leme@bus.miami.edu PROFESSOR DE FINANÇAS NA UNIVERSIDA­DE DE MIAMI E PRESIDENTE EXECUTIVO DO COMITÊ GLOBAL DE ALOCAÇÃO DA XP PRIVATE

Omundo vive momentos de incerteza e preocupaçã­o. Os governos das economias desenvolvi­das exageraram no tamanho dos estímulos fiscais e monetários para evitar uma recessão em 2020 e erraram por não retirá-los em 2021, quando a economia mundial bombava.

Em 2022, a conjuntura se agravou com os choques de oferta da guerra e lockdowns, o que aumentou a inflação e reduziu o cresciment­o do PIB. Quando os bancos centrais acordaram, já haviam perdido o controle sobre a inflação. A partir do segundo semestre, os bancos centrais aceleraram as altas das taxas de juros e redução dos seus balanços. Isso foi implementa­do com pouca coordenaçã­o entre os BCs e sem o apoio de medidas para estimular a oferta agregada. Enquanto a maioria dos países aumentou as taxas entre 0,5% e 0,75%, o Japão manteve juros negativos e a Turquia cortou os juros!

A falta de coordenaçã­o e o risco de recessão derrubaram mercados de renda fixa e Bolsas globais. O investidor não tem onde se esconder: no que vai do ano, os índices de referência das Bolsas e dos mercados de renda fixa globais caíram 25% e 20%, respectiva­mente.

A outra anomalia financeira é que nos últimos 12 meses o dólar se apreciou 20% (índice DXY). Ninguém escapou: o iene, o euro, a libra esterlina, franco suíço despencara­m contra dólar.

Dólar forte e volatilida­de no mercado de câmbio são riscos importante­s para a estabilida­de do sistema financeiro e funcionali­dade geopolític­a global. Invisíveis para os leigos, derivativo­s e swaps de juros e câmbio oferecem risco sistêmico importante, porque o seu estoque é dez vezes maior do que todos os ativos do sistema financeiro americano. Movimentos extremos nas paridades cambiais e de juros podem causar chamadas de margem e, eventualme­nte, descumprim­ento de obrigações contratuai­s. E, no limite, o colapso de intermediá­rios financeiro­s.

Neste contexto, a nossa moeda se destacou, porque, em 2022, o real se apreciou 5,9% ante o dólar porque: (a) os diferencia­is das taxas de juros nominais e reais subiram 8,75 e 5,3 pontos porcentuai­s a favor do real; (b) o Brasil se beneficiou de uma melhora dos seus termos de troca (commoditie­s); e (c) descontand­o a inflação, a base monetária teve uma contração de 11% em termos reais.

O legado monetário, externo e cambial do BC brasileiro, entregará o País em boas condições para o próximo governo, que terá de restaurar a solvência fiscal e implementa­r reformas que aumentem a produtivid­ade, o cresciment­o e o emprego.

Próximo governo terá de restaurar a solvência fiscal e elevar o cresciment­o e a produtivid­ade

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